HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO transplante de células-tronco hematopoéticas (TCTH) alogênico de medula óssea (MO) é usado para tratar várias condições hematológicas, substituindo as células medulares do paciente pelas de um doador, para reconstituir a MO. No Brasil, ainda há disparidades regionais que causam acesso desigual a esse procedimento de alta complexidade.
ObjetivosComparar a distribuição e os desfechos dos transplantes (Tx) alogênicos de MO entre as regiões Nordeste (NE) e Sudeste (SE) do Brasil, no período de 2016 a junho de 2025.
Material e métodosEstudo epidemiológico, descritivo e comparativo, baseado em dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/DATASUS) referentes aos Txs alogênicos de MO realizados entre janeiro de 2016 e junho de 2025. Foram analisadas as variáveis número de Txs, Unidade da Federação (UF), caráter do procedimento (urgência ou eletivo) e taxa de mortalidade (TM) hospitalar. Para a identificação dos procedimentos, foram selecionados os códigos 05.05.01.001-1 (transplante alogênico aparentado) e 05.05.01.002-0 (transplante alogênico não aparentado). Foram realizadas análises estatísticas descritivas, com cálculo de frequências absolutas e relativas, médias e desvios-padrão (DP). Para avaliar a associação entre o caráter (eletivo vs urgência) e a região (SE vs NE), foi aplicado o teste Qui-quadrado de independência (χ²), considerando nível de significância de 5% (p < 0,05). As análises foram realizadas no Microsoft Excel® 2024.
ResultadosNo período analisado, foram registrados 4.973 Txs alogênicos de MO no Brasil. O SE concentrou o maior número de procedimentos (n = 3.311; 66,6%), enquanto o NE ocupou a terceira posição (n = 477; 9,6%). No SE, a média foi 1.103,67 (DP = 1.221,2). Apenas São Paulo (SP), Minas Gerais (MG) e Rio de Janeiro (RJ) realizaram Txs, com predominância de SP (n = 2.507; 75,7%). A maioria das internações teve caráter eletivo (n = 2.407; 72,7%), exceto em MG, onde todos os Txs (n = 522; 100%) ocorreram em urgência. A TM geral da região foi de 6,9%, sendo MG a UF com maior valor (n = 67; 12,8%) e SP a menor (n = 139; 5,5%). No NE, a média de Txs foi 119,25 (DP = 181,9). Somente quatro UFs obtiveram registros: Ceará (CE), Bahia (BA), Rio Grande do Norte (RN) e Pernambuco (PE), com destaque para PE como líder regional (n = 391; 82%). A maior parte dos Txs ocorreu em caráter de urgência (n = 386; 81%). A TM geral foi de 5,6%, com a BA apresentando o maior índice (n = 1; 14,3%) e PE o menor (n = 19; 4,8%). Houve associação significativa entre o caráter de internação e região (χ², p < 0,001). No SE, predominam Txs eletivos; no NE, urgentes.
Discussão e conclusãoConstatou-se disparidades regionais nos Txs de MO, com maior concentração no SE, refletindo desigualdades infraestruturais e socioeconômicas. O predomínio de Txs em urgência no NE em contraste ao eletivo no SE sugere limitações assistenciais, com diferença no tempo de diagnóstico e acesso a tratamentos preliminares. Por outro lado, o NE apresentou menor mortalidade, possivelmente relacionada à seleção mais criteriosa de pacientes tendo em vista as limitações de recursos.
ConclusãoNotou-se uma distribuição desigual dos TCTH alogênicos, com maior concentração no SE de forma eletiva. O NE, apesar de um menor número – em sua maioria de urgência – apresentou mortalidade inferior ao SE. Os achados expõem a necessidade de estratégias para a ampliação e descentralização da rede transplantadora, em especial no NE, visando o acesso equitativo pela população.




