HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA terapia gênica para tratamento da Doença Falciforme (DF) tornou-se uma realidade após aprovação de dois produtos comerciais, pelas agências reguladoras dos EUA (FDA) e União Européia (EMA). Entretanto, essas aprovações revelaram um novo obstáculo para o acesso dos pacientes - o elevado custo. Estimado em $ 3.1 milhões para o Lovotibeglogene autotemcel (Lyfgenia, bluebird bio, Inc, EUA), o produto é inacessível para a maioria dos pacientes, sobretudo em países de média e baixa renda, nos quais a DF é mais prevalente. No Brasil, onde os produtos ainda não estão aprovados, a realidade não é diferente. A disponibilidade desse tratamento, potencialmente curativo, parece depender de iniciativas nacionais que desenvolvam produtos de terapia gênica com custo reduzido.
ObjetivosCom isso, esse projeto desenhou dois vetores lentivirais (Lenti-VP64 e Lenti-VP64+BCL11A) para reativar a expressão do gene endógeno da gama-globina utilizando um ativador transcricional acrescido ou não de um mecanismo de modificação pós-transcricional. Ambos os vetores possuem EGFP como gene repórter.
Material e métodosForam realizadas a produção das partículas lentivirais e a padronização da transdução de células-tronco e progenitores hematopoiéticos (CD34+) do sangue mobilizado de doadores saudáveis (DS) utilizando 8 diferentes condições de transdução (n = 3) e cinco diferentes multiplicidades de infecção (MOI) (n = 4).
ResultadosResultados demonstraram a viabilidade de produção dos dois vetores em altos títulos, utilizando células HEK293T. A transdução de células CD34+ de DS apenas com os vetores (MOI10) resultou em 5,49 % ±1,04 de CD34+GFP+ após 48 horas para o Lenti-VP64 e 7,4 % ± 1,75 para o Lenti-VP64+BCL11A. O uso dos vetores em poços tratados com retronectina elevou a porcentagem de CD34+GFP+ para 19,3 % ± 7,28 com o Lenti- VP64 e 21,0 % ± 8,29 com o Lenti-VP64+BCL11A. A retronectina associada ao sulfato de protamina não se mostrou diferente da condição anterior com 20,3 % ±8,49 de CD34+GFP+ com o Lenti-VP64 e 20,3 % ±7,72 com o Lenti-VP64 + BCL11A. A adição do Poloxamer Synperonic F108 aos vetores e ao sulfato de protamina apresentou a maior porcentagem de células CD34+GFP+ observada para o Lenti-VP64 e o Lenti-VP64 + BCL11A, com 33,20% ± 3,55 e 36,8% ± 5,12, respectivamente. A adição da retronectina à condição anterior não resultou em melhoria na taxa de transdução. Em seguida, foram testados os MOI de 2,5; 5; 10; 20 e 40 de cada vetor em células CD34+ de DS (n = 4). O MOI de 2,5 resultou em 35,45% ± 7,03 para o Lenti-VP64 e 42,7 % ±13,65 o Lenti-VP64+BCL11A. O MOI de 5 elevou a porcentagem de CD34+GFP+ para 54,45 % ±10,81 com o Lenti-VP64 e 54,4 % ±10,92 com o Lenti-VP64+BCL11A. Utilizando o MOI 10 foram obtidas 62,2 % ±8,64 e 64,25 % ±8,92 CD34+GFP+ com os Lenti-VP64 e o Lenti- VP64+BCL11A, respectivamente. Os MOI de 20 e 40 não resultaram em aumento na taxa de transdução quando comparado ao MOI 10. Não foi observada uma intensa redução de viabilidade celular em nenhuma das condições.
Discussão e conclusãoEm conclusão, os resultados demonstram que os vetores Lenti-VP64 e Lenti-VP64+BCL11A são capazes de transduzir células CD34+ de DS. A transdução utilizando sulfato de protamina e poloxamer associado aos vetores foi a mais eficiente. O MOI 10 foi capaz de gerar altas porcentagem de células GFP+ e será utilizado nas etapas seguintes do projeto, nas quais analisaremos a capacidade dos transgenes de aumentar a expressão de HbF em células de DS e células de pacientes com DF. FAPESP (2022/07503-7), CTC (2013/08135-2) e CAPES.




