Objetivos: A terapia de manutenção no Mieloma Múltiplo (MM) oferece vatagens em relação a desfechos de sobrevida e qualidade de vida. No Brasil, o acesso do sistema público de saúde (SUS) a drogas como inibidores de proteassoma ou novos imunomoduladores, como lenalidomida, ainda não é disponível, sendo a talidomida essencial na terapia de manutenção neste meio. Com este trabalho, visa-se caracterizar e avaliar o impacto do uso de talidomida como terapia de manutenção nos diversos cenários de tratamento. Material e métodos: Este estudo, retrospectivo, realizou em abril de 2020 a análise de prontuários de 169 pacientes diagnosticados com MM entre janeiro de 2009 a dezembro de 2019 em um serviço público de São Paulo. Foram selecionados 56 pacientes conforme os critérios de inclusão. Utilizou-se a variável tempo para necessidade de nova terapia (NNT) como principal desfecho, visto que neste período de tempo huve mudanças nos critérios de progressão de doença e, em muitos momentos, a progressão bioquímica não indicava re-tratamento. Resultados: Dos 56 pacientes analisados, 53,3% (n = 31) foram submetidos a Transplante de Medula Óssea (TMO) autológo e 44,7% não eram elegíveis, sendo que destes últimos, com mediana de idade de 71 anos, 65% receberam Melfalano na terapia de indução. Metade dos pacientes eram estratificados como ISS III e 70% Durie & Salmon III. A mediana do tempo para início da talidomida após o TMO foi de 4 meses e de tempo de manutenção foi de 16 meses (3 a 31 meses). No grupo de pacientes não elegíveis e que receberam Melfalano da indução, a mediana do tempo de manutenção foi de 15 meses (5 a 68 meses). A principal causa de suspensão da talidomida foi a presença de neuropatia periférica. Neuropatia grau 2 ou superior foi descrita em 57% dos pacientes. Analisando o tempo para NNT dos pacientes submetidos a TMO, a mediana foi de 53 meses, em comparação com 29 meses do grupo dos pacientes não elegíveis (p = NS). Quando se avaliou a relação do tempo para NNT com tempo de manutenção, no grupo de pacientes que realizaram TMO o uso de talidomida por mais de 24 meses não demonstrou benefício na prevenção da NNT, já o uso por menos de 24 meses parece se relacionar com menor incidência de NNT (p = 0,039). Discussão: Um estudo prospectivo brasileiro demonstrou sobrevida livre de progressão mediana de 19 meses para o grupo que não usou talidomida e de 36 meses para os pacientes que usaram talidomida. Como nosso estudo utilizou dados retrospectivos e em muitas vezes não indicávamos terapia em progressões somente bioquímicas, preferimos utlizar o NNT como parâmetro e, dessa forma, a mediana de tempo para NNT foi de 53 meses no grupo de pacientes submetidos a TMO autólogo. Vale ressaltar que nossa amostra apresentava percentual maior de pacientes ISS III do que a maioria dos estudos. Observou-se benefício do uso de talidomida por até 2 anos, em comparação com quem utilizou por mais tempo no grupo de pacientes que realizaram TMO. Os dados na literatura sobre a duração de terapia de manutenção são controversos. O achado de neuropatia periférica grau 2 ou superior é semelhante ao encontrado na literatura, com alguns estudos apontando incidência de até 70%. Conclusões: Embora os resultados e taxas de neuropatia periférica com o uso de talidomida não sejam animadores, ainda possui evidência de benefício e seu uso por menos de 24 meses parece contribuir para ganho de sobrevida livre de NNT, em especial nos pacientes submetidos a TMO autólogo.
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