
Úlceras de membros configuram como uma das mais complexas manifestações das doenças falciformes (DF), com imenso impacto biopsicossocial: dor intensa, risco de infecção local e sistêmica, comprometimento estético, com prejuízos sociais e na qualidade de vida. São lesões de difícil cicatrização, recidivantes e com limitadas possibilidades terapêuticas efetivas. O objetivo deste relato é expor os benefícios do uso da terapia de biofotomodulação no manejo desta complicação.
Materiais e métodosAnálise retrospectiva de prontuário associada a registros fotográficos e seguimento das dimensões da lesão e suas características biológicas ao longo do protocolo de tratamento. Realizada terapia de biofotomodulação com aparelho laser de baixa potência (100 mW), comprimento de onda infravermelho (808 nm) e vermelho (660 nm), e protocolo dosimétrico personalizado a cada sessão.
ResultadosPaciente do sexo feminino, 54 anos, com anemia falciforme (HbSS), complicada por úlcera maleolar à direita, recidivada em janeiro/23, com necessidade constante de opioides e três cursos de antibioticoterapia no período. Na avaliação em julho/23: lesão de 2,3 × 3,6cm, > 75% da área com exsudato amarelado sem odor, pele ao redor com ressecamento, hiperpigmentação, edema; borda macerada, discreta epibolia, esfacelo aderido em 100% da extensão da borda, leito da ferida sem tecido de granulação aparente. Realizando curativos com papaína 10%, colagenase, AGE e sulfadiazina de prata, sem impacto regenerativo. Foram então realizadas sete sessões de terapia fotodinâmica em 15 dias. Primeira e segunda sessão, com intervalo de 24 horas: terapia fotodinâmica com aplicação de fotossensibilizador (azul de metileno 0,01%) e laser vermelho em leito de ferida, 9 J (Joules) a cada área de 1 cm2 (biomodulação inflamatória e ação antimicrobiana); laser vermelho 2 J a cada 1 cm2, pontual em bordas para desbridamento autolítico e ação anti-edematosa; infravermelho 4 J em extensão de nervos safeno e femoral para analgesia. Demais sessões com intervalo de 48 horas: laser vermelho em leito de ferida, 2 J pontual a cada 1 cm2; laser vermelho 1 J a cada 1 cm2, pontual em bordas; laser Infravermelho 4 J em extensão de nervos safeno e femoral para analgesia. Avaliação com escala visual analógica de dor evidenciou queda média de 4 pontos entre o início e fim de cada sessão (variando de 2 a 8 pontos). Além da diminuição de dor, observado diminuição progressiva no edema e inflamação local; em 24 horas houve liberação total de bordas com desbridamento autolítico e presença de tecido de granulação; aumento da vascularização em bordas e diminuição do diâmetro da lesão: de 0,2 cm em largura e 0,5 cm em comprimento no período de 15 dias.
DiscussãoA terapia biofotodinâmica, com o uso do laser, consiste na amplificação de energia luminosa por emissão estimulada de radiação, em que a energia absorvida leva a alterações citoquímicas – refletindo em multiplicação celular, regeneração tecidual e liberação de fatores tróficos locais. Seu uso mostra-se promissor como tratamento complementar das úlceras de perna em pacientes com DF, situação em que não há tratamentos completamente eficazes.
ConclusãoEste caso demonstra os resultados imediatos do uso de terapia biofotodinâmica no controle da dor e auxílio à cicatrização de úlcera maleolar de paciente com anemia falciforme. Seu emprego deve ser avaliado em ensaios clínicos como potencial ferramenta terapêutica nesta importante complicação da doença.