
Analisar as tendências temporais das taxas de mortalidade por leucemias no estado do Pará.
Materiais e métodosTrata-se de um estudo ecológico, feito a partir de dados extraídos do Atlas da Mortalidade do Instituto Nacional de Câncer, abrangendo os anos de 2000 a 2020. Foram coletadas as taxas de mortalidade por leucemia, designadas conforme a Classificação Internacional de Doenças (C91 a C95), ajustada à população mundial no estado do Pará, segundo sexo e faixa etária. Os dados foram tabulados no programa Microsoft Excel® 2016 e analisados por regressão do tipo joinpoint no programa JoinPoint Regression®, obtendo-se a variação percentual anual média (AAPC, do inglês Average Annual Percent Change) e o intervalo de confiança de 95% (IC95%). Cada tendência temporal foi classificada como crescente (se a AAPC > 0 e o IC95% não incluísse o zero), decrescente (se a AAPC < 0 e o IC95% não incluísse o zero) ou estacionária (se o IC95% incluísse o zero).
ResultadosAs taxas de mortalidade por leucemias no Pará seguiram tendência de aumento significativo (AAPC: 1,1%; IC95%: 0,2 a 2,0). Foi constatada tendência crescente na mortalidade para o sexo masculino (AAPC: 1,4%; IC95%: 0,3 a 2,6), enquanto situação estacionária prevaleceu na população feminina (AAPC: 0,8%; IC95%: −0,2 a 1,9). Quanto à idade, verificou-se tendência crescente na faixa etária de 60 anos ou mais (AAPC: 1,9%; IC95%: 0,7 a 3,2) e estabilidade nas faixas etárias de 0 a 9 anos (AAPC: 1,1%; IC95%: -0,4 a 2,6) e 40 a 59 anos (AAPC: 0,6%; IC95%: −1,4 a 2,7). Dada a ausência de registros de óbito por leucemia em pelo menos um ano da série histórica, não foi possível analisar a tendência de mortalidade referente a adolescentes e adultos jovens.
DiscussãoA tendência de aumento da mortalidade por leucemias no Pará pode dever sua origem a múltiplos fatores, dentre os quais a progressão da transição demográfica e epidemiológica, aumentando o impacto geral de doenças associadas ao envelhecimento; elevação do nível de capacidade de diagnóstico e incremento do rigor nos registros, reduzindo a subnotificação de óbitos; além do aumento da exposição a carcinógenos ambientais – sílica, formaldeído, benzeno, cianeto, agrotóxicos, entre outros. A tendência crescente na mortalidade na população masculina pode estar vinculada ao aumento da prevalência de doenças metabólicas entre homens e aos fatores ambientais supracitados, mais comuns no sexo masculino. A tendência crescente de mortalidade em idosos parece refletir aumento progressivo do envelhecimento populacional, estando relacionada também ao tipo de leucemia mais comum nessa população, leucemia mieloide aguda, que possui um pior prognóstico.
ConclusãoEntre os anos de 2000 a 2020, observou-se uma significativa tendência de aumento nos gráficos de mortalidade por leucemias no estado do Pará, sendo mais prevalente em homens e idosos, provavelmente influenciada por fatores ocupacionais, ambientais e socioeconômicos. Para combater essa situação preocupante, são necessárias ações de saúde pública e controle da exposição a substâncias nocivas, além de investimentos em pesquisas, ações preventivas primárias, secundárias e acesso a terapêutico equitativo aos pacientes.