A anemia falciforme, condição genética e crônica mais prevalente no Brasil, impõe desafios diários significativos, especialmente durante a infância. As estratégias educativas voltadas para o público infantil ainda são escassas, principalmente no que se refere à promoção do autocuidado. Nesse cenário, tecnologias educacionais lúdicas e baseadas em evidências tornam-se ferramentas poderosas no empoderamento de crianças com doença falciforme.

Desenvolver e validar um vídeo educativo como tecnologia assistencial voltada ao autocuidado de crianças escolares com anemia falciforme, promovendo a compreensão da doença e a autonomia infantil.

Pesquisa metodológica em sete etapas, realizada no Hemocentro Regional de Juiz de Fora, com crianças escolares de 6 a 12 anos incompletos com anemia falciforme. As etapas incluíram: (1) escuta qualificada por meio de entrevistas com as crianças para levantamento dos temas; (2) embasamento teórico do conteúdo; (3) elaboração do roteiro pela pesquisadora e do storyboard pelo videomaker; (4) validação do storyboard por experts em hematologia, pediatria e enfermagem; (5) produção do vídeo animado; (6) avaliação pelo público-alvo; (7) ajustes finais com base nos feedbacks recebidos. Para análise de dados das entrevistas foi utilizado o software Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires (IRAMUTEQ) para o processamento dos dados das entrevistas, com a criação de um dendograma. O Índice de Validade de Conteúdo foi utilizado para validar o storyboard e o vídeo, respectivamente, pelos experts e pelo público-alvo. O estudo foi aprovado pelos comitês de ética das duas instituições participantes.

As entrevistas revelaram cinco eixos temáticos prioritários para o cuidado cotidiano: manejo da doença, uso de medicamentos, controle da dor, rotina (vestuário e brincadeiras), além de hidratação e alimentação. A tradução desses temas em linguagem acessível e visualmente atrativa resultou em um vídeo educativo validado, tanto por experts (médicos, enfermeiros, assistentes sociais e psicóloga) quanto pelas próprias crianças, com índice de validade de conteúdo de 99,2% e 100%, respectivamente. O tempo final do vídeo foi de 00:07:26. A versão final encontra-se em processo de registro na Agência Nacional do Cinema (Ancine) e já está protegida por registros em plataformas privadas. Por esse motivo, ainda não pode ser compartilhada em larga escala, mas pode ser utilizado em pesquisas até seu registro. Este é o vídeo pronto para análise: https://youtu.be/uoBX8p17k4k.

O vídeo educativo desenvolvido é uma ferramenta inovadora, cientificamente validada e com potencial de impacto positivo na prática assistencial, especialmente no âmbito da Fundação Hemominas e demais hemocentros do Brasil. Sua utilização pode facilitar o diálogo entre profissionais de saúde, crianças e famílias, promovendo o protagonismo infantil no autocuidado e favorecendo a adesão ao tratamento. Além disso, o estudo evidenciou a rigidez da escola no atendimento ao aluno com doença crônica, que muitas vezes ocorre pelo desconhecimento da doença. A utilização do vídeo nas escolas, com os profissionais, pode auxiliar na educação em saúde dando visibilidade a anemia falciforme e conhecimento aos professores.