Relato do caso: Paciente, 24 anos, sexo feminino, previamente hígida, foi diagnosticada com leucemia mieloide crônica (LMC) após investigação de hepatoesplenomegalia e leucocitose. Foi iniciado tratamento com Imatinibe e após 1 dia desenvolveu quadro clínico de “rash”eritematoso maculopapular pruriginoso em face, tórax, dorso, membros superiores e abdome, fadiga, dores em membros inferiores e queda do estado geral. Além disso, apresentava febre, náuseas, vômitos e adenomegalias dolorosas em região cervical e retroauricular, sendo admitida em Hospital Universitário. Na internação, apresentou as seguintes alterações laboratoriais: TGO 718, TGP 608, GGT 508, LDH 4.795, FA 606, BT 4.2, BI 1.22, BD 3.07, sendo levantada a hipótese de hepatite medicamentosa e reação de hipersensibilidade cutânea ao Imatinibe. Sorologias para hepatites, HIV, CMV e sífilis foram negativas. Iniciou-se corticoterapia e foi descontinuado o inibidor de tirosina quinase (ITK). A paciente evoluiu com melhora parcial, recebendo alta para acompanhamento ambulatorial. Após 33 dias da suspensão da droga foi constatada melhora clínica significativa, sendo feita a reintrodução ambulatorial da medicação. Após 4 dias, evoluiu com náuseas, mialgia, febre, e novo quadro cutâneo mais grave que o anterior, com prurido intenso, exantema e descamação, caracterizando eritrodermia generalizada. Os exames laboratoriais evidenciaram as seguintes alterações: TGO 181, TGP 116, GGT 186, FA 517, BT 6,31, BD 4,08, BI 2,23. Após avaliação da dermatologia, o quadro foi considerado compatível com síndrome DRESS (Reação a drogas com eosinofilia e sintomas sistêmicos). Houve nova suspensão da droga e iniciou-se corticoterapia em altas doses aliada a suporte hemodinâmico, tratamento de infecções secundárias, hidratantes corporais e antialérgicos para melhora do prurido. Evoluiu com resolução das manifestações cutâneas e laboratoriais, sendo encaminhada para seguimento ambulatorial. Pelo risco de reação cruzada, optou-se por não realizar tentativa de reintrodução de outros ITK e a paciente foi encaminhada para transplante de medula óssea. Apresentou HLA compatível com irmão e no momento encontra-se em curso do transplante de células tronco hematopoiéticas, sem novas alterações cutâneas ou hepáticas descritas anteriormente. Discussão: O tratamento da LMC com ITK geralmente é bem tolerado e o risco de efeitos adversos graves é baixo. Em relação ao desenvolvimento de hepatite medicamentosa pelo imatinibe, a literatura aponta como fatores de risco a preexistência de hepatite B, outras doenças hepáticas e uso conjunto de inibidores de bomba de prótons. A síndrome DRESS é uma reação de hipersensibilidade grave induzida por drogas que causa erupções cutâneas, febre e outras manifestações como linfadenopatia, eosinofilia e acometimento de vários órgãos, como o fígado. Este relato apresenta um caso de hepatotoxicidade e reação cutânea induzida por imatinibe com posterior desenvolvimento de farmacodermia ameaçadora a vida após reintrodução medicamentosa. Mesmo sem possuir os fatores de risco descritos na literatura para desenvolvimento de hepatite medicamentosa, a paciente apresentou acometimento hepático. A farmacodermia descrita é incomum na terapia com imatinibe, porém, devido a sua gravidade, é importante atentar às suas possíveis manifestações no início do tratamento. Ao identificar a síndrome, a terapia de escolha é a suspensão da droga desencadeadora aliada a corticoterapia, como realizado no caso.
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Vol. 42. Núm. S2.
Páginas 132 (novembro 2020)
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SÍNDROME DRESS INDUZIDA POR IMATINIBE EM PACIENTE COM LEUCEMIA MIELOIDE CRÔNICA: RELATO DE CASO
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