HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA Leucemia Mieloide Aguda (LMA) é uma neoplasia hematológica agressiva, marcada pela proliferação de precursores mielóides imaturos e associada a hospitalizações prolongadas e alto risco de desnutrição. A reintrodução alimentar inadequada nesses pacientes pode levar à Síndrome de Realimentação (SR), alteração metabólica grave e potencialmente fatal, ainda subdiagnosticada na prática clínica.
ObjetivosRelatar um caso de SR em paciente diagnosticado com leucemia mieloide aguda com maturação (LMA-M2).
Descrição do casoPaciente masculino, 15 anos, com diagnóstico de LMA-M2 em janeiro de 2025, com imunofenotipagem compatível e presença inicial de 56,8% de blastos na Medula Óssea (MO). Iniciou protocolo BFM LMA 2002 com resposta lenta à indução e consolidação, mantendo positividade mínima por imunofenotipagem até maio. Evoluiu com infecção urinária grave por Klebsiella pneumoniae KPC, com necessidade de desbridamento cirúrgico por balanopostite necrosante e uso de antimicrobianos de amplo espectro. Durante neutropenia profunda, apresentou quadro de inapetência severa, náuseas, vômitos e recusa alimentar, culminando em estado nutricional caquético. Após tentativa de reintrodução da dieta e planejamento para Nutrição Parenteral Total (NPT), evoluiu com critérios clínico-laboratoriais de SR: hipocalemia (2,6 mEq/L), hipomagnesemia limítrofe (1,94 mg/dL) e hipofosfatemia (1,85 mg/dL) e hipernatremia (152 mEq/L), elevação progressiva da proteína C reativa (PCR >24 mg/dL). A Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) instituiu tiamina em dose terapêutica, suspendeu temporariamente o início da NPT e intensificou a reposição eletrolítica. A tomografia abdominal evidenciou espessamento parietal anorretal, sugerindo colite neutropênica. O paciente recebeu alta com orientação de seguimento ambulatorial.
Discussão de casoO principal gatilho da SR é a rápida transição do estado catabólico para o anabólico após a reintrodução nutricional, com maior incidência em pacientes críticos e alta letalidade em oncohematológicos com desnutrição severa submetidos a quimioterapia. Este caso ilustra a complexidade do manejo nutricional em um adolescente com LMA e infecção multirresistente, evidenciando como a SR pode contribuir para morbimortalidade em um cenário já fragilizado por pancitopenia e imunossupressão. Critérios diagnósticos e sinais laboratoriais da SR incluem principalmente a presença de hipofosfatemia, hipocalemia e hipomagnesemia, que refletem o desequilíbrio eletrolítico característico da síndrome. A monitorização rigorosa desses eletrólitos é essencial para o diagnóstico precoce e prevenção de complicações graves associadas à realimentação em pacientes desnutridos.
ConclusãoA detecção precoce da SR, com monitoramento rigoroso dos eletrólitos e a suplementação de tiamina, associado à atuação da EMTN, foi crucial para controlar a descompensação metabólica e evitar complicações. Este relato enfatiza a importância da vigilância nutricional e metabólica contínua em pacientes com LMA, destacando a SR como um aspecto crítico no cuidado onco- hematológico.




