
Avaliar uma coorte de pacientes com suspeita de HIT, comparando ocorrência de trombose, sangramento ou morte entre pacientes com confirmação ou não diagnóstica.
MétodosEstudo retrospectivo que avaliou pacientes com suspeita de HIT (escore 4T intermediário ou alto) que foram submetidos aos exames para o diagnóstico no Laboratório de Coagulação da Hematologia do HCFMUSP entre 2018 e 2024.
Critérios de exclusãoSem uso prévio de heparina, testes inconclusivos, ausência de informações clínicas. Para diagnóstico de HIT são realizados os testes imunoturbidimétrico e, caso este seja positivo, o teste funcional por agregação plaquetária induzida por heparina. Avaliada a incidência em 90 dias de trombose confirmada por imagem, sangramento ou morte.
ResultadosCoorte de 118 pacientes, em que 81 tinham teste imunológico negativo (imuno neg.), 15 teste imuno positivo e funcional negativo (funcional neg.) e 22 tiveram HIT confirmada (imuno e funcional positivos). A mediana de idade foi 63 anos, sendo 53% do sexo masculino e 54% com comorbidades de risco cardiovascular e 5,6% com neoplasia. Não houve diferença basal entre os grupos. Heparina não fracionada em dose profilática foi a mais utilizada. 71% estavam em internação clínica e 29% cirúrgica. Internação clínica por COVID-19 foi predominante nos pacientes com teste imuno pos./funcional neg. (p = 0,03) e internação para cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea foi predominante entre os pacientes com HIT confirmada (p = 0,04). Todos os pacientes eram críticos, sendo que a maioria estava em uso de droga vasoativa e 43% em ventilação mecânica, sendo a frequência desta menor nos casos de HIT confirmada em comparação com os com teste imuno pos./funcional neg. (32 vs. 67%, p = 0.05). A heparina foi suspensa em todos após a suspeita de HIT, sendo reintroduzida em 61% dos pacientes HIT negativos. Os demais pacientes reintroduziram anticoagulação com fondaparinux ou rivaroxaban. A maioria (83%) dos pacientes teve recuperação plaquetária, independente da confirmação da HIT. Complicações hemorrágicas ocorreram em 17% dos pacientes e foram semelhantes entre os grupos. Trombose ocorreu em 32% dos pacientes, sendo 19% entre os imuno neg., 53% entre os imuno pos./funcional neg. e 68% entre os HIT positivos (p < 0,001). A maioria das tromboses aconteceu em vigência de plaquetopenia (75%). Diferente dos demais grupos, os pacientes com HIT confirmada tiveram trombose logo após o início da plaquetopenia (mediana 1 dia vs. 6 e 11 dias nos demais grupos, p = 0.002). A mortalidade em 90 dias foi de 29%, sendo semelhante entre os três grupos. A principal causa de óbito foi sepse (78%).
DiscussãoA incidência de trombose é alta em pacientes com suspeita de HIT, mesmo entre aqueles em que a doença não é confirmada. Entretanto, pacientes com HIT tiveram trombose muito próximo à queda da contagem plaquetária, o que reforça a correlação entre essas complicações. Nos pacientes em que HIT foi excluída, a gravidade do quadro clínico pode justificar a alta incidência de trombose, o que ressalta a importância da manutenção da profilaxia quando os níveis plaquetários forem permissivos uma vez que o risco hemorrágico foi baixo.
ConclusãoPacientes com suspeita de HIT têm alto risco trombótico, independente da confirmação da doença. Devido a rápida instalação do quadro, o diagnóstico e tratamento precoces da HIT são fundamentais para evitar a sobreposição de fatores que podem piorar o prognóstico do paciente.