HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA retinopatia falciforme é uma complicação silenciosa e potencialmente grave da doença falciforme (DF), frequentemente subestimada pela avaliação clínica isolada e com manifestações distintas conforme o genótipo. Avanços recentes nas técnicas e práticas de rastreamento têm ressaltado a importância do uso de exames complementares na avaliação oftalmológica desses pacientes (Cummings, et al. 2024). Nesse contexto, a angiografia fluoresceínica de campo amplo (AGF-WF) permite a detecção precoce de alterações vasculares periféricas, ampliando a acurácia diagnóstica. A relação entre os genótipos da DF e os padrões de retinopatia ainda é pouco explorada na prática clínica.
ObjetivosConsiderando as limitações dos métodos clínicos convencionais, este estudo comparou seu desempenho diagnóstico com o da AGF-WF na detecção e classificação da retinopatia falciforme, analisando também os padrões retinianos e laboratoriais nos genótipos SS e SC.
Material e métodos16 pacientes com doença falciforme (9 com genótipo SS e 7 com SC) foram submetidos à avaliação oftalmológica completa, incluindo fundoscopia, retinografia e AGF-WF, além da análise de parâmetros hematológicos. Os dados clínicos, laboratoriais e de imagem foram analisados de forma comparativa entre os genótipos.
ResultadosA retinopatia foi identificada com os exames convencionais em 8 de 16 pacientes (50%). Após a AGF-WF, 6 pacientes foram reclassificados, totalizando 13 casos (81,3%) com retinopatia — 8/9 no grupo SS e 5/7 no SC. No grupo SS, quatro pacientes passaram de ausência de retinopatia para grau II, e dois de grau I para grau II. No grupo SC, 5 dos 7 pacientes apresentaram retinopatia após avaliação completa, incluindo dois casos proliferativos. Os resultados apontam para diferenças marcantes no padrão de retinopatia entre os genótipos, sugerindo mecanismos fisiopatológicos distintos que podem influenciar tanto a apresentação quanto a progressão da doença ocular. Os pacientes com genótipo SS apresentaram maior frequência de lesões isquêmicas periféricas e retinopatia não proliferativa (grau II), associadas a níveis mais baixos de hemoglobina e marcadores laboratoriais de hemólise aumentados, como bilirrubina indireta. Por outro lado, pacientes com genótipo SC apresentaram maior proporção de retinopatia proliferativa (grau III), mesmo com hemoglobina mais elevada e menor evidência de hemólise, sugerindo influência de mecanismos relacionados à viscosidade sanguínea.
Discussão e conclusãoA AGF-WF demonstrou ser uma ferramenta indispensável na reclassificação e detecção de lesões não identificadas clinicamente. Os padrões distintos entre os genótipos reforçam a necessidade de uma abordagem diagnóstica individualizada. A avaliação multimodal, sobretudo com AGF-WF, aprimora o reconhecimento precoce e o estadiamento da doença ocular. Em estudos futuros buscaremos correlacionar esses achados clínico-laboratoriais com dados moleculares obtidos em modelos in vitro, visando elucidar alvos terapêuticos relacionados à angiogênese na retinopatia falciforme.
Referências
Apoio financeiro: FAPESP (2024/14703-8 e 2024/02153-3) e CNPq (153847/2024-7). Cummings, Olivia W et al. “Advances in sickle cell retinopathy screening techniques, tests, and practices: A systematic review.” American journal of hematology vol. 99,11 (2024): 2152-2163. doi:10.1002/ajh.27439




