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Vol. 44. Núm. S2.
Páginas S140-S141 (Outubro 2022)
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Páginas S140-S141 (Outubro 2022)
LEUCEMIAS AGUDAS
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REMISSÃO ESPONTÂNEA DE LEUCEMIA MIELOIDE AGUDA APÓS INFECÇÃO GRAVE POR COVID-19 E CHOQUE SÉPTICO: RELATO DE CASO.
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LL Perrusoa, Pa dilhaa, VA Silvab, FM Marquesa, P Teixeirab, A Justinoa, SB Almeidaa, KP Melliloa, LLM Perobellia, EX Soutoa
a Hospital de Transplantes Euryclides de Jesus Zerbini - Hospital Brigadeiro, São Paulo, SP, Brasil
b Laboratório de Citometria de Fluxo DASA, Brasil
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Introdução

A remissão espontânea de leucemia mieloide aguda é um evento muito raro, e suas descrições na literatura médica geralmente envolvem um evento infeccioso grave. Mais recentemente, a COVID-19 também foi descrita como um dos fatores associados a tal fenômeno, e a hipótese mais aceita para o mesmo é de que há uma hiperativação imune que também apresenta efeito antitumoral.

Relato de caso

Paciente feminina, de 54 anos, foi admitida no Hospital Brigadeiro com história de alteração de nível de consciência e lesão em pododáctilo direito que motivou a procura do pronto socorro. No hemograma da admissão, apresentava hemoglobina 8,2 g/dL VCM 87, plaquetometria 11.000/mm3, leucócitos 99560 com 88% de células de médio a grande tamanho, alta relação núcleo citoplasma nucléolos evidentes e presença frequente de bastonete de Auer. À imunofenotipagem de sangue periférico,22,4% destas células revelaram marcação CD13, CD15++, CD33++/+++, CD34 par, CD38+++, CD64+, CD71+, CD117, CD123+, HLA-DR, MPO par, além de 18,6% de monócitos maduros, com diagnóstico de leucemia mieloide aguda. Foi colhido teste rápido para COVID-19 antes da internação, com resultado positivo. Nos 3 dias que se seguiram, a paciente evoluiu com desconforto respiratório, taquipneia, e a tomografia de tórax revelou ainda broncopneumonia sobreposta à COVID-19, o que resultou em intubação orotraqueal por insuficiência respiratória. Durante a intubação, a paciente evoluiu com parada cardiorrespiratória em atividade elétrica sem pulso, com retorno à circulação espontânea após 10 minutos. Dada a gravidade do quadro, foi optado por não iniciar indução quimioterápica. Ao longo da internação em UTI, a paciente fez uso de piperacilina tazobactam com vancomicina nos primeiro 7 dias de internação, teve Pseudomonas aeruginosa multissensível isolada de aspirado traqueal, e recebeu meropenem e teicoplanina por novo evento de choque séptico, por 7 dias. Sua internação em UTI durou 41 dias, contudo, ao longo dos primeiros 30 dias de internação houve clareamento de blastos em sangue periférico, e parâmetros como hemoglobina e plaquetometria também evoluíram com melhora. Ao final do 42° dia, quando recebeu alta da UTI para a enfermaria, foi feita avaliação medular, quel não revelou blastos com as características imunofenotípicas previamente descritas. A paciente se encontra atualmente internada e com remissão citomorfológica e sem doença residual mínima pela imunofenotipagem. Não foi administrada qualquer terapia antineoplásica, somente hidroxiureia para fins de citorredução, nos primeiros 7 dias do quadro.

Discussão

O caso evidencia uma rara e ainda não compreendida remissão de leucemia mieloide aguda após infecção por COVID-19 e complicações infecciosas bacterianas graves. Casos semelhantes já foram descritos em sepse grave e COVID-19 isoladamente, mas a evolução natural do quadro envolve a recaída da doença após alguns meses do quadro agudo. A terapia antineoplásica, por sua vez, é indispensável para a remissão sustentada. A explicação mais aceita para o fenômeno é de que um mecanismo imunológico ativado e produção excessiva de citocinas pró-inflamatórias, sobretudo na COVID-19, destruiria as células neoplásicas, que poderiam inclusive ser infectadas pelo vírus.

Conclusão

Apesar de o mecanismo exato da remissão ser desconhecido, o caso apresentado reforça o papel da imunidade do indivíduo no tratamento antineoplásico e justifica a imersão em mais estudos envolvendo imunoterapia para a leucemia mieloide aguda.

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Hematology, Transfusion and Cell Therapy
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