
A evolução de Leucemia mieloide crônica (LMC) para a fase blástica traz ao indivíduo piora do prognóstico e da sobrevida, sendo importante causa de mortalidade nesses pacientes e sua concomitância com outras neoplasias é rara, porém descrita na literatura.
ObjetivosDescrever o quadro clínico de duas neoplasias em um paciente.
Materiais e métodoApós consentimento da paciente, foi ealizada busca na literatura vigente e coletado os dados clínicos e aboratoriais do prontuário para elaboração do relato de caso.
Relato de casoSexo feminino, 63a, com astenia, perda de peso e anorexia há 2m. Estava hipocorada, edema de mmii, esplenomegalia, xerodermia e linfonodos retroauriculares bilaterais e submandibular papáveis. Exames de diagnóstico: hemograma com hemoglobina de 8,6 g/dL, leucócitos 160.000/mm3 com 40% de segmentados, plaquetose 530.000/mm3 e DHL elevada; ultrassonografia com hepatoesplenomegalia; mielograma com eritropoiese relativamente hipoplásica e normoblástica, com 6% de celularidade; granulopoiese hipercelular com 20% de mieloblastos, 52% de granulócitos neutrófilos sequenciados e hipogranúlicos, 2% de eosinófilos e 16% de basófilos; hiperplasia megacariocítica com plaquetogênese preservada; linfócitos 2%; monócitos 2%; imunofenotipagem de blastos de linhagem mielóide com presença de antígeno aberrante CD7+. Iniciado tratamento quimioterápico de indução com citarabina (AraC) por 5 dias e doxorrubicina por 2 dias. A pesquisa molecular de transcritos BCR-ABL1 p210 foi positiva. Optou-se por trocar esquema de qt para azacitidina por 7 dias adicionado dasatinibe ao esquema. Pós alta hospitalar, a paciente apresentou hematêmese e hipotensão, com endoscopia digestiva alta com lago gástrico organizado e moderada quantidade de sangue vermelho vivo em corpo proximal do fórnix, presença de coágulo e de lesão elevada em fórnix com sangramento ativo, foi então realizado procedimento de laparotomia exploratória e gastrectomia parcial: a tumoração era exofítica, estava localizada na grande curvatura do estômago, media aproximadamente 5 cm, havia pequena quantidade de líquido sero- hemático na cavidade e não havia carcinomatose perineal ou implantes hepáticos. O exame anatomopatológico revelou macroscopicamente que o tumor havia dimensões 4,8 x 4,2 cm, era irregular de coloração branco-acastanhado, com margem de ressecção de 0,6 cm. Na microscopia, foi observado subtipos fusocelular e epitelióide, necrose em cerca de 10% da lesão tumoral, baixo grau histológico, com índice mitótico de 2 mitoses/50CGA. Após a recuperação cirúrgica, foram retomados esquemas de tratamento quimioterápico e a paciente segue sem internamento, clinicamente estável.
DiscussãoTrata-se de quadro clínico de prognóstico reservado onde a agudização da LMC já possui gravidade e neste caso, houve concomitância de outra neoplasia, gástrica, demonstrando a raridade da associação. Nessas sincronias, muitas vezes não se conhece a origem genética, ou se pode aventar a LMC sendo uma manifestação paraneoplásica do câncer gástrico. Há relatos de sincronismo de leucemias com neoplasias de próstata, bem como retal, com desfechos catastróficos, resultando em óbitos dos pacientes.
Conclusãoneste relato, pode-se avaliar a importância do hemograma inicial, fato este que orientou a solicitação do exame de BCR-ABL, bem como a importância em realizar o diagnóstico neoplásico de maneira acurada, a fim de não existir confusão diagnóstica, como nos casos de reações leucemoides.