
A Leucemia Linfocítica Crônica (LLC) é a leucemia mais comum em adultos, caracterizada pela proliferação de linfócitos B maduros, principalmente homens idosos. A suspeita clínica é levantada diante de linfocitose no sangue, adenomegalias e complicações autoimunes.
ObjetivoRelatar o caso de um paciente do sexo masculino, internado em julho de 2023 no Hospital Municipal Dr. Moyses Deutsch-SP (HMMD), com dor lombar crônica e adenomegalia, secundário a Leucemia Linfocítica Crônica Atípica (LLCa).
MetodologiaRelato de caso, um estudo observacional retrospectivo de caráter descritivo, seguido de revisão de literatura.
Relato de casoPaciente de 75 anos, homem, peruano, procedente de São Paulo-SP, encaminhado ao serviço de Urologia do HMMD em junho de 2023, devido queixa de lombalgia, de intensidade moderada, sem irradiação, associada a perda ponderal de 4kg em três meses. Ao exame, em bom estado geral e sinais vitais estáveis, porém apresentava linfonodomegalias em cadeias cervical anterior, supraclaviculares bilateralmente, troclear direita e inguinal direita, indolores, não aderidos, medindo cerca de 1-2 cm cada, sem demais alterações. O hemograma inicial evidenciou leucocitose (58.480) com 89% de linfócitos, anemia normocítica e normocrômica sem alteração plaquetária, sendo encaminhado para avaliação da equipe de Clínica Médica. Na avaliação de sangue periférico foi evidenciado linfócitos maduros, núcleo com cromatina condensada e citoplasma basofílico. A imunofenotipagem identificou células B clonais CD19+, CD5+, CD23+, com expressão fraca de CD20 e restrição de cadeia leve kappa. A expressão de CD23 foi mais intensa que o usual, e as células também expressavam CD200. O cariótipo revelou trissomia 12 (47,XX,+12[20]). Testes para mutação TP53, t(11;14) e ciclina D1 foram negativos, excluindo linfoma do manto. Sendo classificado como BINET A. Uma semana após, o paciente evoluiu com plegia de membros inferiores bilateralmente (MMII), disfunção esfincteriana e dor lombar intensa. Retornou ao Pronto Socorro, apresentando força grau 0 em MMII, anestesia até raiz da coxa e arreflexia de tendões patelar e aquileu, além de reflexo de Babinski positivo. Aventada hipótese de síndrome de compressão medular secundária a neoplasia, o paciente foi transferido para hospital terciário para avaliação neurocirúrgica.
DiscussãoLLCa, embora semelhante a LLC típica à imunofenotipagem, apresenta um curso clínico mais agressivo. No caso em questão, a disponibilidade do cariotipo ajudou na distinção dessas duas patologias. Na sua indisponibilidade, o escore de Matutes é uma excelente ferramenta para essa diferenciação. A identificação precoce da LLCa se faz necessário visto que, a mesma possui rápida progressão, incluindo acometimento ósseo, quadro este incomum na LLC típica, o que justifica o quadro de compressão medular do paciente por fratura patológica.
ConclusãoO caso ilustra a apresentação incomum de LLC com morfologia atípica e rápida evolução para complicação neurológica grave. Enfatiza a necessidade de reconhecimento precoce e monitoramento da progressão da doença. Estudos adicionais são necessários para otimizar o tratamento de pacientes com LLCa.