
Revisar a bibliografia acerca da Lesão Pulmonar Aguda Relacionada à Transfusão (TRALI).
Material e métodosRevisão de prontuário de um paciente com TRALI confirmado.
ResultadosLactente de dois meses deu entrada em um hospital terciário do interior do Ceará com choque séptico foco cutâneo devido à infecção fúngica em área de fraldas que culminou em disfunção cardiorrespiratória e hematológica. Na admissão, já apresentava pancitopenia e sangramento em vias aéreas, sendo necessário múltiplas hemotransfusões com hemácias, plaquetas e plasma fresco congelado. Após essas transfusões, paciente encontrava com infecção controlada, sem sobrecarga hídrica, confirmada por ecocardiograma e RX de tórax, bem como controle hídrico rigoroso e evoluiu com Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo Grave com hipoxemia refratária ao tratamento ofertado (posição prona e altos parâmetros de ventilação mecânica não invasiva). Apresentando imagem radiológica sugestiva de TRALI evoluindo com disfunção de múltiplos órgãos e sistemas, evoluindo para o óbito.
DiscussãoTRALI é uma síndrome que se caracteriza por desconforto respiratório agudo que ocorre durante a transfusão ou até seis horas após a sua conclusão, sem evidência anterior de lesão pulmonar associado a hipoxemia, a infiltrados bilaterais na radiografia de tórax frontal e nenhuma evidência de sobrecarga circulatória. Qualquer hemocomponente que contenha plasma pode desencadear TRALI. Essa síndrome é considerada uma complicação rara da transfusão sanguínea, cuja incidência ainda não está bem estabelecida, em parte devido à dificuldade em se realizar o diagnóstico e ao fato de que os mecanismos de notificação ainda não estão bem difundidos. A fisiopatologia da TRALI ainda não está completamente esclarecida e, até o momento, vários mecanismos possíveis foram propostos, entre eles: inflamação, ativação de plaquetas e diapedese de neutrófilos, culminando em edema alveolar. Entre os vários mecanismos fisiopatológicos propostos, dois modelos se destacam. O primeiro de origem imunológica, que se pauta por uma ativação de neutrófilos pela infusão de anticorpos anti-HLA (antígenos leucoplaquetários) ou anti-HNA (antígenos neutrofílicos) advindos do plasma do doador; e o de origem não imunológica, que defende que, durante a estocagem dos hemoderivados, há degradação celular que libera moléculas inflamatórias que, por sua vez, desencadeiam a TRALI. O tratamento consiste em medidas de suporte ventilatório que vão desde a oxigenoterapia suplementar até a ventilação mecânica e cuidados de terapia intensiva. Nesse último grupo de pacientes a morbidade é alta, podendo alcançar uma taxa de mortalidade alta, de 5% a 10%. Devido ao fato de a disfunção pulmonar aguda ser um achado inespecífico, TRALI é um diagnóstico de exclusão, essencialmente clínico e dependente de alto grau de suspeição.
ConclusãoApesar de ser um evento raro, a TRALI pode culminar com o óbito. Dessa forma, toda hemotransfusão deve ser avaliada os riscos-benefícios, pelas possíveis reações transfusionais. Dessa forma, a educação continuada com a aplicação sistemática dos protocolos pode diminuir transfusões desnecessárias e bem como as complicações a elas associadas.