
O Linfoma de Hodgkin (LH) é uma neoplasia hematológica com alta taxa de cura em primeira linha de tratamento baseada, principalmente, em imunoquimioterapia. Mesmo quando em segunda linha, as chances de cura associadas à consolidação com transplante autólogo de medula óssea continuam elevadas. Cerca de 10 a 30% dos pacientes com LH, porém, estarão inseridos no cenário recidivado/refratário (R/R), mesmo após a depender do seu estadiamento inicial, sendo considerados como quimiossensíveis. Para o tratamento desses linfomas R/R, a imunoterapia é uma opção alternativa que possibilita controle a longo prazo da doença. A base do tratamento imunoterápico está fundamentada no bloqueio do receptor PD-1.
O Nivolumabe é uma das medicações inibidoras do PD-1 aprovadas para uso no tratamento do LH R/R. Como efeitos adversos ao uso do Nivolumabe, principalmente no seu uso na oncologia sólida, temos a descrição prévia de fadiga, erupções cutâneas, perda de apetite, náuseas, diarreia, dor nas articulações e elevação de transaminases, além de quadros mais graves como pneumonite e hepatite autoimune.
ObjetivoDescrever um relato de caso sobre efeito adverso grave relacionado ao uso do Nivolumabe em paciente com Linfoma de Hodgkin em remissão.
Relato de casoHomem, 28 anos, diagnosticado com LH clássico em janeiro de 2017, estadiamento avançado com alto IPS (> 2). Realizou tratamento de primeira linha com esquema eBEACODD por 5 ciclos, apresentando doença refratária. Posteriormente submetido a tratamentos subsequentes de resgate com IGEV, DHAP e Brentuximabe, porém com baixa adesão à terapias e respostas pouco satisfatórias. Por fim, iniciou uso de Nivolumabe em 2020, mantendo a terapia a partir de então. Paciente alcançou resposta completa após 6 ciclos de imunoterapia, mantendo a resposta, ainda que em seguimento irregular. Em outubro de 2023 paciente iniciou quadro de náuseas e vômitos, associado a dor abdominal em hipocôndrio direito, dispneia e mialgia, com necessidade de internação para investigação dos sintomas. Apresentava alterações laboratoriais compatíveis com hepatite aguda fulminante com aumento de transaminases (TGO de 3108 U/L, TGP de 2380 U/L) e de canaliculares (FAL de 312 U/L, GGT de 238 U/L, Bilirrubinas totais de 20,4 mg/dL), além de alteração de coagulograma (INR de 4,49). Paciente apresentou falência hepática e de múltiplos órgãos após choque refratário, evoluindo ao óbito após poucos dias de internação.
DiscussãoO Nivolumabe possui como efeitos adversos mais comuns endocrinopatias, pneumonias, hepatites, diarreia e colites, sendo que 10% desses casos apresentam clínica e laboratoriais compatíveis com grau 3 ou mais, sendo muito comum a descontinuidade do tratamento nessas situações. Relatos de hepatite fulminante em pacientes com LH em remissão e em uso de Nivolumabe não foram encontrados, porém paciente não apresentou outro diagnóstico mais provável para a causa do seu óbito.
ConclusãoO caso descrito revela um efeito adverso raro, porém fatal, do uso de Nivolumabe durante o tratamento de LH refratário. Atentar para sinais precoces de alterações hepáticas torna-se fundamental para evitar quadros semelhantes, principalmente em pacientes em remissão.