
O mieloma múltiplo é uma neoplasia maligna dos plasmócitos e representa a segunda neoplasia hematológica mais comum, atrás apenas dos linfomas não-Hodgkin. Os plasmócitos neoplásicos habitam primariamente a medula óssea, mas também podem ser encontrados no sangue periférico e em outros sítios extramedulares. Na maioria dos pacientes, o mieloma múltiplo é caracterizado pela secreção de uma proteína monoclonal produzida pelos plasmócitos neoplásicos. Esta proteína, juntamente às células neoplásicas e às citocinas por elas produzidas, leva às principais manifestações clínicas da doença, que incluem hipercalcemia, anemia, doença renal e lesões ósseas.
ObjetivoRelato de caso de recaída mieloma múltiplo com plasmocitoma nodal.
CasoHomem, 53 anos, iniciou acompanhamento ambulatorial no HCFMRP-USP no ano de 2020 para seguimento de Mieloma Múltiplo IgG Lambda diagnosticado em serviço externo no ano de 2018. O mesmo já recebera tratamento quimioterápico consolidado com transplante autólogo de medula óssea nos meses que seguiram ao diagnóstico e obteve resposta parcial muito boa ao término da terapia. Após alguns meses de acompanhamento, o mesmo relatou em consulta ambulatorial o surgimento de lesões cervicais à direita, de consistência pétrea, móveis e com crescimento progressivo. Realizou ultrassonografia de região cervical que evidenciou linfonodos hipoecoicos em cadeia VA. A biópsia da maior lesão demonstrou tecido fibroconjuntivo infiltrado por plasmócitos, cujo estudo imuno-histoquímico revelou positividade das células neoplásicas para CD138, lambda, CD56 e negatividade para lambda, compatível com infiltração por mieloma múltiplo. A eletroferese de proteínas, bem como a dosagem sérica de cadeias leves e imunoglobulinas, corroborando também a recaída laboratorial da doença.
DiscussãoA maioria dos pacientes portadores de mieloma múltiplo irá recair após a terapia inicial e necessitará de estratégias terapêuticas adicionais. Para a escolha do melhor tratamento nestes casos, é necessária a avaliação de alguns fatores, como o tempo decorrido entre o último tratamento e a recaída, os sintomas, as alterações laboratoriais relacionadas e a ocorrência de plasmocitoma extramedular, este último associado a uma menor sobrevida global. Desta forma, deve ser realizada uma avaliação clínica criteriosa destes pacientes, especialmente pela possível ocorrência destes plasmocitomas em sítios poucos usuais.
ConclusãoSabe-se que a recaída extramedular do mieloma múltiplo está associada a um pior prognóstico e que pode haver de acometimento em sítios pouco comuns. O hematologista, portanto, deve ter atenção redobrada aos sinais e sintomas deste grupo de pacientes, de forma a orientar uma melhor abordagem terapêutica.