
A hemorragia feto materna (HFM) é definida quando há passagem de mais de 20% da volemia do feto, para a circulação materna. Afeta 1 a cada mil nascidos vivos e tem graves complicações tanto para o feto como para a mãe. As causas são diversas: trauma abdominal, pré-eclampsia, HELLP syndrome . O diagnóstico é baseado na identificação de hemácias fetais na circulação materna. A utilização do teste diagnóstico e triagem baseado no método descrito por Kleihauer-Betke (KB) eluição ácida da hemoglobina como uma ferramenta de triagem na previsão de hemácias fetais adversos associados à hemorragia feto-materna (HFM) ainda é utilizado como padrão ouro, mesmo diante de tecnologias disponíveis de citometria de fluxo (CF), e das limitações apresentadas por esta última. Estudo recente de coorte retrospectivo de centro único avaliou um resultado composto primário de complicações fetais associadas à FMH entre os grupos de teste KB-negativo e KB-positivo: a sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e valor preditivo negativo. Os resultados associados à HFM não foram significativamente diferentes entre as coortes de teste KB-positivos e KB-negativos; O teste KB não oferece precisão diagnóstica na avaliação de triagem de emergência de mulheres com suspeita de HFM. O uso da CF também apresenta suas limitações utilizando o anticorpo anti-hemoglobina fetal. A principal dificuldade neste último é a necessidade de permeabilização das células e o fato de que este teste tem um viés com pacientes heterozigotas para hemoglobinopatias. Diante desta dificuldade este trabalho se propôs a utilizar a detecção do receptor de transferrina (anti-CD71) em células mononucleares de gestantes. O aumento da expressão do CD71 nestas mulheres pode ser um indicador de “transfusão feto materna”ou hemorragia feto materna. Após aprovação em comitê de ética em pesquisa e aplicação do TCLE, amostras de sangue de cordão umbilical (SCU) e sangue periférico adulto (SPA) foram obtidos e analisadas. As células foram preparadas, isoladas por gradiente de densidade e analisadas por citometria de fluxo utilizando o marcador anti-CD71. Na presente análise observou-se variação na detecção de células positivas para CD71, sendo as amostras de SCU positivas para o marcador com alta expressão, em torno de 35 a 74% (controle positivo) do volume total, contra menos de 3% no SPA (controle negativo). Com esta análise podemos concluir que é possível estabelecer o limiar de células fetais na circulação materna em gestações normais e definir o ponto de corte para identificação da hemorragia feto materna em gestações de risco.