
A Recuperação Intraoperatória de Sangue (RIOS), envolve a coleta e reinfusão de hemácias autólogas obtidas na aspiração do campo cirúrgico, por meio de equipamento específico, apresentando-se como estratégia eficaz de autotransfusão. A utilização da RIOS pode substituir ou reduzir a necessidade transfusional alogênica, diminuindo a exposição aos riscos transfusionais associados.
ObjetivosDescrever o protocolo de indicação da Recuperação Intraoperatória de Sangue, no trauma toracoabdominal em hospital público de referência em urgência e emergência.
Material e métodoEstudo descritivo, do tipo relato de experiência, sobre o protocolo de indicação de autotransfusão, com uso da técnica de Recuperação Intraoperatória de Sangue (RIOS), no trauma toracoabdominal, em Fortaleza, Ceará, Brasil. A experiência foi realizada no Instituto Dr. José Frota – IJF, da Prefeitura Municipal de Fortaleza – PMF, e oficializada pelo Comitê Transfusional Hospitalar – CTH, em outubro de 2018, com a formação de uma equipe de enfermeiros do trauma para atuar no gerenciamento da técnica RIOS e acompanhamento dos pacientes politraumatizados com risco de choque hemorrágico no departamento de emergência.
Resultados e discussãoO uso da técnica RIOS, amplamente aplicada em cirurgias programadas, com potencial de grandes perdas hemorrágicas, passou a ser empregada em situações emergenciais do trauma toracoabdominal contuso ou penetrante, com sangramento em grande volume, em campo operatório que permita a recuperação de sangue acima de 500 ml. O IJF dispõe de protocolo para indicação da técnica RIOS com equipe de enfermeiros do trauma atuante em plantão 24 horas, sete dias na semana; e dois equipamentos de RIOS, disponibilizados pelo Hemocentro coordenador do Estado do Ceará para uso em procedimentos de urgência e emergência, prioritariamente no trauma toracoabdominal. A média de volume de reaproveitamento sanguíneo foi de 700 ml de hemácias e 10 procedimentos por mês. Inicialmente, estabeleceram-se as principais indicações sobre benefício do uso da RIOS em pacientes politraumatizados graves, sendo o Trauma Torácico Fechado/Penetrante (hemotórax maciço, lesão vascular, lesão cardíaca ou pulmonar/ruptura traumática de aorta, diafragma, contusão pulmonar, lesão transfixante de mediastino, tamponamento cardíaco), e no Trauma Abdominal Fechado/Penetrante (lesão hepática, lesão esplênica/lesão hepática ou esplênica, sem ruptura de alças intestinais), os que apresentam melhor reaproveitamento de sangue no cenário emergencial. Existe a possibilidade de utilização em procedimento de drenagem torácica, e outras situações que podem ser avaliadas pela equipe médica. Complicações relacionadas à utilização da RIOS são incomuns; a reinfusão de hemácias autólogas recuperadas em campo cirúrgico contaminado deve ser utilizada após definição da equipe médica de atendimento do paciente, com cobertura de antibioticoterapia de amplo espectro e utilização de filtro para remoção de leucócitos.
ConclusãoCom a implementação do protocolo de indicação da Recuperação Intraoperatória de Sangue no cenário emergencial do trauma toracoabdominal, otimizaram-se estratégias de conservação do sangue no intraoperatório e beneficiaram-se pacientes com choque hemorrágico e risco de transfusão maciça, com a disponibilidade de hemácias autólogas imediatamente, reduzindo a exposição transfusional e os riscos associados, além de favorecer a segurança transfusional de pacientes.