Algumas situações clínicas na hemoterapia exigem a produção de hemocomponentes especiais, entre eles a desleucocitação, irradiação e fenotipagem. O uso de concentrado de hemácias especiais está indicado nas prevenções de complicações relacionadas a transfusão de hemocomponentes.

Este estudo tem por objetivo descrever o perfil de produção de hemocomponentes no Hospital de Clínicas de Porto Alegre no ano de 2024.

Estudo observacional, retrospectivo e descritivo, baseado na análise dos registros institucionais de produção de hemácias entre janeiro e dezembro de 2024. Os dados foram tabulados em planilha Excel, contemplando tipagem sanguínea, número de bolsas irradiadas, uso em recém-nascidos e total de hemácias fenotipadas e desleucocitadas. As análises foram descritivas, expressas em frequências absolutas e relativas.

Foram desleucocitadas 5.168 bolsas de concentrado de hemácias, sendo os tipos mais prevalentes O positivo (2.275; 44,0%), A positivo (1.172; 22,7%) e O negativo (796; 15,4%). Destas, 2.516 bolsas (48,7%) foram fenotipadas para atender pacientes com aloanticorpos detectados ou com histórico de aloimunização. O uso mensal de bolsas fenotipadas variou de 136 (janeiro) a 256 (março), com média mensal de aproximadamente 210 bolsas. Adicionalmente, foram utilizadas 4.202 bolsas irradiadas, especialmente em pacientes imunossuprimidos e neonatais, sendo 229 (5,4%) destinadas a recém-nascidos. O mês com maior número de bolsas irradiadas foi julho (471). Observa-se uma tendência de estabilidade e alto volume na adoção de hemocomponentes especiais ao longo do ano.

No presente estudo, todas as bolsas foram desleucocitadas, o que reflete a adesão a padrões elevados de segurança hemoterápica no hospital. O uso de 2516 bolsas fenotipadas indica uma prática ativa na identificação de grupos sanguíneos, essencial para garantir a compatibilidade e minimizar reações adversas. O total de 4202 bolsas irradiadas com o foco significativo em bolsas (229) de recém-nascidos destaca a prioridade para esta população vulnerável. A quantidade significativa de bolsas de hemácias desleucocitadas, fenotipadas e irradiadas, ressalta a necessidade de suprir e manter estoques adequados e o gerenciamento adequado destes demonstra práticas de transfusão mais seguras e eficazes. O elevado percentual de uso de hemácias fenotipadas evidencia a adoção de políticas institucionais voltadas à segurança transfusional em pacientes com risco de aloimunização. A distribuição compatível com a prevalência populacional dos tipos sanguíneos reforça a efetividade da gestão dos estoques. O volume expressivo de bolsas desleucocitadas, irradiadas e fenotipadas aponta para a complexidade clínica da população atendida e destaca a importância de protocolos transfusionais rigorosos em ambientes de alta complexidade hospitalar.