
Descrever os resultados do tratamento de indução com baixas doses (MAG ‒ Mitoxantrone: 5 mg/m2/dia do D1 a D3, Citarabina: 10 mg/m2 do D1 a D10, GCSF: 5 mcg/kg/dia do D1 a D10) das primeiras crianças e adolescentes com Leucemia Mielóide Aguda (LMA) no Brasil.
Material e métodosEstudo retrospectivo, multicêntrico, não controlado, aberto, de braço único, fase 2, para avaliação da atividade antitumoral (taxa de resposta/remissão) e segurança do esquema MAG, proposto como primeira indução no Protocolo Brasileiro para Tratamento de LMA Pediátrica, seguido de outro MAG ou ADE (segunda indução) e de três intensificações, adaptadas conforme grupos de risco (baixo, intermediário e alto), definidos segundo a avaliação genética e a resposta aos dois primeiros ciclos de indução. Critérios de inclusão: pacientes menores de 21 anos com LMA de novo ou LMA secundária. Critérios de exclusão: pacientes com leucemia promielocítica e pacientes com LMA e Síndrome de Down.
ResultadosDados coletados de maio de 2022 a julho de 2022. Foram registrados 70 pacientes, dos quais 3 foram excluídos por possuírem Sd. de Down. Dos 67 restantes, 27 do sexo feminino e 40 do sexo masculino. A mediana de idade ao diagnóstico foi 7 anos e 9 meses. Dos 65 pacientes avaliáveis (2 foram a óbito no início do tratamento), 41 (63%) apresentaram menos de 5% de blastos em medula óssea após a primeira indução e 83% após a segunda indução (50 de 60 pacientes avaliáveis). Houve dois óbitos durante a primeira indução com MAG (2,98%) e 4 óbitos durante a segunda indução, totalizando 8,95% de óbitos quando somadas as duas induções.
DiscussãoO resultado do tratamento da LMA pediátrica melhorou significativamente nas últimas décadas. As taxas de Sobrevida Global (SG) atuais são superiores a 70%, devido à implementação de estratégias como classificação de risco mais precisa, refinamentos nos cuidados de suporte e acesso ao transplante. No entanto, em locais com recursos limitados e países em desenvolvimento, como o Brasil, a SG varia de 20% a 55%, conforme a região do país, e as mortes relacionadas ao tratamento de indução são excepcionalmente altas (entre 25%‒30% de óbitos nos primeiros dois meses de tratamento, contra discrepantes menos de 5% nos países de primeiro mundo). Os regimes com quimioterapia de dose padrão estão associados a complicaçõescom risco de vida, devido à profunda mielossupressão e disfunção orgânica. Há atualmente dados suficientes na literatura, que suportam o risco de utilizar protocolos com baixas doses de indução na LMA. Como demonstrado pelos bons resultados do grupo chinês (reproduzidos em outros países e contextos, inclusive na America Latina), é possível observar taxas índices de remissão completa e sobrevida similares aos protocolos internacionais que fazem uso de poliquimioterapia em altas doses. Os resultados dos primeiros 67 pacientes que receberam o protocolo MAG no Brasil demonstram isso, com mortalidade inferior a 9% durante os dois primeiros meses de tratamento, sem prejuízo na indução da remissão.
ConclusãoHouve redução importante da mortalidade indutória com o protocolo MAG, com taxas índices de remissão completa similares aos protocolos internacionais estandardizados. Os resultados deste estudo contribuem para a adesão à proposta do novo protocolo da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE) para LMA pediátrica, aprovado em maio de 2022 (CAAE 51679421.6.1001.0098) e já em aplicação em 45 instituições brasileiras.