HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA doença falciforme (DF) é uma hemoglobinopatia hereditária, crônica e incapacitante, associada a múltiplas complicações clínicas, que comprometem a qualidade de vida das pessoas com DF. A baixa adesão ao tratamento configura-se como fator agravante do curso clínico, podendo intensificar o comprometimento da saúde, gerar limitações ocupacionais, sociais e emocionais, além de impactar no modo de vida do paciente. O objetivo do trabalho é apresentar a experiência do serviço social, com o suporte da equipe multidisciplinar, no contexto da adesão das pessoas com DF.
Descrição do CasoTrata-se de um relato de experiência com abordagem descritiva, realizado no ambulatório do Hemocentro de Belo Horizonte, iniciado em janeiro de 2025. Foram incluídos crianças e adolescentes com até 17 anos, com DF do tipo SS ou SC, que haviam faltado a três ou mais consultas médicas consecutivas sem justificativa. Ao todo, 27 responsáveis legais foram acolhidos e orientados quanto ao Termo de Responsabilidade de Adesão (TRA) documento a ser assinado por eles confirmando o entendimento da importância da adesão e se responsabilizando em mantê-la. Na primeira fase, os casos foram identificados nos dias de consulta pediátrica, sendo discutidos com os médicos assistentes para compreensão do contexto clínico e social. Na segunda fase, o serviço social sistematizou os dados em uma planilha. A terceira fase consistiu no contato com a atenção primária para apoiar a busca ativa dos pacientes. Localizado o responsável, este era orientado a comparecer à consulta e informado quanto à possibilidade de notificação ao Conselho Tutelar, em caso de nova ausência. Na quarta fase, o serviço social realizava acolhimento individualizado ao responsável legal, buscando compreender sua realidade social, o grau de entendimento sobre a DF e os fatores que dificultavam a adesão. Também eram identificadas possibilidades de ampliar a rede de apoio familiar, promovendo corresponsabilização. Ao final do atendimento, o TRA era apresentado, lido em conjunto e assinado. Quando necessário, a abordagem era ampliada com a participação de outros profissionais, como psicóloga, enfermeiro, pedagogo ou médico assistente. Esses acolhimentos possibilitaram reflexões sobre os desafios do tratamento, o impacto da sobrecarga e aspectos relacionados à saúde mental dos cuidadores. Foram esclarecidas dúvidas, fornecidas orientações sociais e acolhidas emoções expressas durante os atendimentos, fortalecendo o vínculo entre família e equipe de saúde.
ConclusãoO projeto permitiu não apenas promover a corresponsabilização dos cuidadores, mas também reflexões sobre a atuação da equipe multiprofissional, especialmente no que se refere ao letramento do cuidador e à linguagem da equipe utilizada na abordagem sobre as manifestações clínicas da DF. A escuta ativa e o acolhimento revelaram a importância de considerar as singularidades do contexto social, psíquico, cultural e crenças das famílias. Tais fatores interferem diretamente na forma como os responsáveis compreendem a DF, seus riscos e a necessidade de adesão ao tratamento. A experiência destacou o papel estratégico do serviço social na mediação entre família, equipe e rede de saúde, favorecendo o fortalecimento de vínculos, a ampliação da rede de apoio e a promoção do cuidado integral. A prática relatada reafirma também a necessidade de sistema eficiente no monitoramento da adesão com ações que garantam o direito à saúde e melhoria da qualidade de vida de crianças e adolescentes com DF.




