HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA leucemia mieloide aguda (LMA) é uma neoplasia hematológica agressiva, caracterizada pelo acúmulo de células mieloides imaturas na medula óssea (MO) e no sangue periférico (SP). Alterações no microambiente da MO, contribuem para a progressão da doença e evasão tumoral. Além disso, mudanças genéticas, como a superexpressão do gene MN1, também estão ligadas a um fenótipo mais agressivo e resistência ao tratamento. Dentre os achados na MO leucêmica, destaca-se o aumento de macrófagos associados à LMA (AAMs), com perfil semelhante ao de macrófagos M2, de caráter anti-inflamatório e imunosupressor. Nesse cenário, estratégias terapêuticas que visam reprogramar esses AAMs para um fenótipo inflamatório e antitumoral, como o M1, vêm sendo exploradas.
ObjetivosO objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos imunomoduladores da plinabulina, um inibidor da polimerização da tubulina, sobre AAMs em modelos de LMA com superexpressão de MN1.
Material e métodosMonócitos do SP de indivíduos saudáveis foram polarizados em macrófagos M2 e tratados com plinabulina (0,125–0,5 µM) por 48 horas. A imunofenotipagem (CD80, CD86, CD206, CD163) foi feita por citometria de fluxo, e os níveis de citocinas (TNF-α, IL-1β, IL-10, TGF-β) foram quantificados nos sobrenadantes. Macrófagos derivados da MO de camundongos foram polarizados para o fenótipo M2 e tratados com plinabulina e a expressão gênica (Cd80, Tnf-α, Nos2, Cd206, Arg1, Cd163) foi feita por qRT-PCR. A expressão gênica também foi analisada em macrófagos cocultivados com células de LMA superexpressando o gene MN1. Ensaios funcionais incluíram testes de fagocitose e de proliferação leucêmica com macrófagos tratados. O sequenciamento de RNA foi usado para identificar alterações na expressão gênica e vias moduladas. A citotoxicidade ex vivo foi avaliada em amostras primárias de LMA (n = 25) tratadas por 72 horas com plinabulina, com análise de viabilidade de blastos e macrófagos por citometria de fluxo (Anexina V/DAPI e TMRE). A eficácia in vivo foi testada em camundongos com LMA MN1-GFP⁺, tratados com plinabulina (7,5 mg/kg, i.p., diariamente), e a carga leucêmica foi avaliada por citometria de fluxo na MO, SP e baço.
ResultadosOs resultados demonstraram que o plinabulina modulou a expressão de marcadores imunofenotípicos, aumentando a expressão de CD86 e reduzindo CD163 em amostras humanas, além de estimular a secreção de citocinas pró-inflamatórias (IL-1β, TNF-α) e reduzir TGF-β. Em amostras murinas, houve aumento da expressão de genes associados ao fenótipo M1 (Cd80, Tnf-α, Nos2) e redução da expressão de Arg1. Na cocultura com células de LMA, os macrófagos tratados apresentaram aumento da atividade fagocítica e inibiram a proliferação de células leucêmica. O cultivo dos macrófagos em meio condicionado de células de LMA induziu um perfil tolerogênico nos macrófagos, parcialmente revertido pelo tratamento. A análise transcriptômica mostrou que o plinabulina induziu a expressão de 4.829 genes, incluindo marcadores de resposta a lesões e remodelamento tecidual e resposta pró-inflamatória. O tratamento também suprimiu a via IL-6/JAK/STAT3, associada ao fenótipo M2. Plinabulina também demonstrou citotoxicidade sobre células CD34⁺ leucêmicas de pacientes e, em modelo murino transplantado com células MN1⁺, reduziu a frequência das células leucêmica na MO, SP e baço.
Discussão e conclusãoOs achados reforçam o potencial da reprogramação de macrófagos como estratégia complementar no tratamento da LMA, como em casos de alto risco molecular com superexpressão de MN1.




