HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA triagem sorológica em doadores de sangue é fundamental para garantir a segurança transfusional e prevenir a transmissão de infecções por via sanguínea. Além disso, a análise dos resultados da triagem ao longo do tempo possibilita acompanhar o cenário epidemiológico das doenças transmissíveis por via sanguínea, identificando tendências e fornecendo dados relevantes para a vigilância em saúde pública. Mudanças significativas na prevalência das infecções podem refletir fatores diversos, como avanços tecnológicos nos métodos diagnósticos, alterações comportamentais da população e impacto de políticas públicas. O período da pandemia de COVID- 19 acarretou desafios inéditos para o serviço de hemoterapia, alterando o perfil dos doadores e a dinâmica das doações.
ObjetivosComparar o perfil das alterações sorológicas detectadas em doadores de sangue nos períodos pré-pandemia (2014 à 2019) e pós-pandemia (2020 à 2025) de COVID-19, com enfoque nas principais infecções triadas nos hemocentros públicos.
Material e métodosEste estudo retrospectivo foi conduzido no Hemocentro Regional de Maringá, utilizando dados secundários de doadores de sangue com resultados confirmados como reagentes para os agentes infecciosos mencionados. A coleta de dados compreendeu o intervalo de agosto de 2014 à maio de 2025. Os resultados foram organizados em dois grupos temporais: o período pré- pandemia, de 2014 à 2019, e o período pós-início da pandemia, de 2020 à 2025. Foram analisadas as proporções relativas de cada infecção entre as sorologias reagentes, possibilitando a comparação dos perfis epidemiológicos e a identificação de possíveis mudanças decorrentes dos impactos sociais e sanitários da pandemia. A análise estatística considerou as variações percentuais e tendências entre os períodos citados.
Discussão e conclusãoNo intervalo pré-pandêmico, de 2014 à 2019, a hepatite B foi a infecção com maior prevalência entre os doadores reagentes, representando 61,1% dos resultados positivos. A sífilis ocupou a segunda posição, com 32,6%, seguida da hepatite C (2,3%), HIV (2,1%), HTLV (1,1%) e doença de Chagas (0,5%). Já no período pós-início da pandemia, de 2020 à 2025, observou-se uma inversão significativa nesse perfil: a sífilis se tornou a infecção mais prevalente, atingindo 44,8%, enquanto a hepatite B caiu para 44,2%. As outras infecções também apresentaram alterações, com aumento da prevalência de HIV (4,8%), hepatite C (3,7%), e HTLV (2,5%), ao passo que a doença de Chagas apresentou leve redução para 0,3%. Essas mudanças podem ser atribuídas a ampla vacinação contra hepatite B reduzindo a incidência da doença na população geral e, consequentemente, entre os doadores. O aumento da sífilis e das demais infecções sexualmente transmissíveis pode estar associado a alterações no comportamento sexual da população, maior dificuldade de acesso a serviços de prevenção durante a pandemia. A reorganização dos serviços de hemoterapia durante a pandemia, incluindo a diminuição de campanhas externas e o aumento das doações por reposição, também pode ter contribuído para o perfil observado. Dessa forma, a triagem sorológica permanece essencial para a garantia de segurança transfusional e para traçar estratégias de captação de doadores.
ReferênciasBrasil. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria n° 158, de 4 de fevereiro de 2016. Redefine o regulamento técnico de procedimentos hemoterápicos. Diário Oficial da União. 2016 fev 5.




