
A imunofenotipagem de células plasmáticas malignas, obtida através citometria de fluxo, apresenta um papel fundamental no diagnóstico do mieloma múltiplo (MM). Com isso, o objetivo deste trabalho é avaliar o fenótipo encontrado em pacientes que chegam com suspeita de MM no Hospital Geral de Fortaleza (HGF).
MetodologiaEstudo retrospectivo do tipo descritivo observacional, com seleção de dados clínicos, envolvendo prontuários de pacientes diagnosticados com mieloma múltiplo e classificados de acordo com o Revised International Staging System (RISS) atendidos no HGF de maio de 2022 a junho de 2024, mediante aprovação do comitê de ética da Universidade Federal do Ceará (N°4.798.575). Com imunofenotipagem realizada pelo Hemoce - Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará, de acordo com o EuroflowuroFlow, sendo utilizados anticorpos para marcação dos seguintes antígenos: CD19, CD20, CD27, CD38, CD45, CD56, CD81, CD117, CD138, cyKappa, cyLambda.
ResultadosAo total foram avaliados 38 pacientes, destes 13 (34.21%) pertencentes ao risco RISS1, 12 (31.58%) ao risco RISS2 e 13 (34.21%) ao risco RISS3. Dado a imunofenotipagem dos pacientes o predomínio majoritário dos fenótipos CD138, CD38 e CD56, estados estes presentes em 33, 30 e 24 pacientes respectivamente. Os demais apresentaram uma frequência menor que 20 aparições. No grupo RISS 1 foram quantificados 12 pacientes com CD138, 12 com CD56 e 11 com CD38; no grupo RISS 2, 11 com CD138, 7 com CD38 e 4 com CD56; e no grupo RISS 3, 12 com CD38, 10 com CD138 e 8 com CD56.
DiscussãoA utilização de CD38 e CD138 para a identificação de células plasmáticas é amplamente utilizada e recomendada devido a sua confiabilidade na identificação. O CD56 também é considerado um marcador fundamental para a caracterização do MM, sendo ele um marcador aberrante que pode ser expresso pelas células natural killer, entretanto também expressos nas células plasmáticas tumorais. Dentre os grupos e os fenótipos apresentados o único que possui maior disparidade entre o risco é o CD56, estando com maior prevalência no grupo RISS 1, sendo ele o grupo de menor risco, entretanto a alta prevalência de CD38 e CD138 também foi observada no mesmo grupo, demonstrando a presença de células plasmáticas. O CD56 também é observado nas leucemias e considerado um fenótipo de pior prognóstico, assim como sua expressão é associada com pior desfecho em pacientes com MM que utilizam de terapias convencionais.
ConclusãoA imunofenotipagem apresenta grande valor identificação de células plasmáticas, estando associada com o diagnóstico apresentando resultados mais rápidos em comparação com a análise histopatológica de medula óssea. Entretanto, avaliar o fenótipo associado a estratificação de risco ainda é uma atividade pouco frequente devido à falta de fenótipos característicos para cada grupo. De maneira geral, há consenso sobre a eficácia da combinação de CD38 e CD138 para identificar células plasmáticas em MM. A divergência do CD56 achado nos pacientes de menor risco oferece um outro ponto de vista sobre esse marcador. Embora outros marcadores ainda sejam relevantes, nenhum marcador isolado oferece especificidade suficiente para distinguir claramente entre células tumorais e normais. Isso levanta a questão da escolha dos marcadores para a identificação de plasmócitos, com ênfase particular na importância do CD138.