HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA cirurgia cardíaca é um procedimento de alta complexidade, frequentemente associado a riscos de hemorragia e à necessidade de transfusões sanguíneas. O Gerenciamento de Sangue do Paciente surge como uma abordagem multidisciplinar para otimizar os cuidados, reduzir a perda de sangue e racionalizar o uso de hemocomponentes. Dentro desse contexto, a Tromboelastometria (TEM) é uma ferramenta diagnóstica que avalia de forma dinâmica a coagulação do sangue.
ObjetivosO estudo buscou analisar e comparar o perfil demográfico (sexo, idade), clínico (tipo de cirurgia, tempo de internação) e transfusional (uso de hemocomponentes) de pacientes submetidos a cirurgias cardíacas. A análise comparativa foi feita entre dois períodos: janeiro a junho de 2022 (pré- TEM) e janeiro a junho de 2024 (pós-TEM). O objetivo era verificar se a introdução da TEM impactou a utilização de hemocomponentes e os desfechos clínicos dos pacientes.
Material e métodosEstudo descritivo, retrospectivo e documental, com abordagem quantitativa. Os dados foram coletados de prontuários eletrônicos e outros registros da Agência Transfusional e do Centro Cirúrgico da Fundação Hospital de Clínicas Gaspar Vianna, em Belém, Pará. A população do estudo incluiu pacientes com 18 anos ou mais, de ambos os sexos, que fizeram uso de hemocomponentes durante ou após cirurgia cardíaca nos períodos de janeiro a junho de 2022 e janeiro a junho de 2024. Foram coletadas variáveis como sexo, idade, tipagem sanguínea, tipo de cirurgia, tempo de internação, uso de hemocomponentes,e se a TEM foi realizada. Os dados foram organizados no software Excel® e analisados estatisticamente com o BioEstat 5.0, utilizando o Teste T para comparação de médias entre os dois períodos, com nível de significância de 5% (p ≤ 0,05). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição.
ResultadosNo período avaliado, foram realizadas 215 cirurgias, com idade média de 58,65 anos e predominância do sexo masculino (70%). A cirurgia mais comum foi a Revascularização do Miocárdio (RVM), representando 63,3% dos casos, e a tipagem sanguínea O+ foi a mais prevalente (47%). A média de bolsas de hemácias utilizadas no intraoperatório foi de 1,30 por cirurgia, e de plasma fresco congelado foi de 0,95. Em janeiro a junho de 2024 (pós-TEM), foram realizadas 271 cirurgias, com idade média de 59,50 anos e 69% dos pacientes do sexo masculino. A RVM foi a cirurgia mais frequente (67%), com a tipagem O+ predominando (50%). 37 (14%) dos pacientes realizaram a TEM. No intraoperatório, houve uma redução estatisticamente significativa na utilização de hemácias (média de 0,90 bolsas por cirurgia, p = 0,0006) e de plasma fresco congelado (média de 0,36 bolsas, p < 0,0001). No pós-operatório, no entanto, a média de bolsas de hemácias aumentou de 0,68 em 2022 para 1,07 em 2024 (p = 0,01). O tempo médio de internação em UTI/UCA foi de 3,46 dias e a taxa de mortalidade foi de 6%.
Discussão e conclusãoA introdução da Tromboelastometria (TEM) na cirurgia cardíaca resultou em uma redução significativa do consumo de hemácias e plasma fresco congelado durante o intraoperatório. Isso sugere que a TEM é uma ferramenta eficaz para o manejo da coagulação, e para um uso mais racional de hemocomponentes. Contudo, o aumento do uso de hemácias no pós- operatório e as taxas de mortalidade e tempo de internação indicam que, apesar dos progressos, a gestão do cuidado pós-operatório ainda apresenta desafios.O estudo reforça a importância de políticas de gerenciamento de sangue mais amplas, para melhores resultados.




