
Ao submeter-se a um procedimento cirúrgico, podem ocorrer diversas situações, sendo uma delas a hemorragia, o que consequentemente pode levar a realização de uma transfusão sanguínea, e dependendo da cirurgia realizada, o paciente necessitará de uma grande quantidade de hemocomponentes. A autotransfusão não é uma concepção nova, o crescente aumento do número de cirurgias com alto potencial de sangramento e consequentemente aumento da demanda para os bancos de sangue, além do risco associado a conversão sorológica foram fatores determinantes para criação de programas visando a diminuição de do uso sangue alogênico. O método de autotransfusão intraoperatória, mas conhecido como Cell Saver, consiste em recuperar o sangue perdido durante a cirurgia. O sangue é lavado, centrifugado e devolvido ao paciente, com auxílio de equipamento próprio para realização do procedimento. No presente trabalho foi avaliado o perfil de utilização de Cell Saver, quanto cirurgias atendidas, volume recuperado, necessidade de transfusão e porcentagem de óbitos, no período de 12 meses em 3 hospitais do Rio de Janeiro.
Materiais e métodosForam avaliadas 81 cirurgias que utilizaram Cell Saver no período de junho de 2021 até junho de 2022, em três hospitais de média e alta complexidade do Rio de Janeiro com atendimento a procedimento cirúrgicos de grande porte como cardíacas e transplantes que apresentam alto potencial de sangramento. Para entender melhor o perfil de utilização de Cell Saver os itens avaliados foram: em quais cirurgias o procedimento foi mais solicitado, porcentagem de pacientes transfundidos e de hemácias utilizadas, volume médio recuperado e porcentagem de óbitos. Os dados foram obtidos a partir do banco do sistema interno utilizado para registro do histórico transfusional e procedimentos especiais realizados em todos os pacientes atendidos pelas agências transfusionais dos 3 hospitais.
ResultadosO transplante hepático foi a cirurgia com maior taxa (31%) de utilização de Cell Saver, seguido de revascularização do miocárdio (29%), troca valvar (19%), transplante cardíaco (8%), outros procedimentos como aneurismas, artrodese de coluna totalizam 13%. Foi necessário realizar transfusões de hemácias em centro cirúrgico para 41 pacientes, isso representou 51% das cirurgias realizadas. O total de concentrados de hemácias utilizados foram 127. Os dois procedimentos tiveram maior quantitativo de pacientes transfundidos foram transplante hepático e troca valvar, 80% e 66% respectivamente. O volume médio recuperado foi de 792 ml, a cirurgia com maior média de volume recuperado foi troca valvar 898 ml, seguida de revascularização de miocárdio com 717 ml. Dos 81 pacientes avaliados, 10 (12%) foram a óbito por complicações após realização da cirurgia. Em 7 óbitos a volume recuperado foi inferior a 1000 ml, sendo a média de volume recuperado de 595 ml, menor que o observado no total geral. Foram realizadas transfusões de 32 concentrados de hemácias para esses pacientes, isso representou 17% do volume transfundido.
ConclusãoEm relação ao perfil foi observado que as duas cirurgias com maior utilização de Cell Saver foi transplante hepático e revascularização do miocárdio, assim como descrito em outros trabalhos. Houve transfusões de hemácias em 51% dos procedimentos avaliados, com maior quantitativo para o transplante hepático e troca valvar. A média do volume recuperado foi de 792 ml, sendo a troca valvar com maior média de volume recuperado 898 ml. Os óbitos apresentaram uma taxa de 12%, a média de recuperação de células nesses pacientes foi menor que o observado no total geral e a demanda transfusional para os 10 óbitos foi de 17% do total utilizado.