Avaliar o perfil de solicitação de concentrados de hemácias para reserva cirúrgica em Agência Transfusional localizada em Hospital Geral privado e o quantitativo efetivamente transfundido, visando gestão de estoque para atendimentos seguros.

Estudo descritivo, observacional e transversal, que avaliou o perfil das solicitações de reserva cirúrgica quanto ao diagnóstico/tipo de cirurgia, sexo e idade dos pacientes, e ao quantitativo transfusional. Os dados foram obtidos do sistema software da Agência Transfusional-GSH, localizada no Hospital Geral privado, em Recife-PE, no período de janeiro 2021 a dezembro de 2022. Foi realizada a análise descritiva dos dados por meio de frequências absolutas, percentuais e utilização da média e mediana.

A Agência Transfusional recebeu 1.424 solicitações de reserva cirúrgica de Concentrados de Hemácias (CH), correspondendo a 3.174 hemocomponentes solicitados e 161 transfundidos (5%). Dos hemocomponentes reservados, a maioria (33%) era para procedimentos urológicos, com média de 2 CH por solicitação, sendo 84% pacientes do sexo masculino com mediana de idade de 66 anos. Destes, foi observado que prostatectomias representaram 75,4% dos procedimentos, e baixo índice de transfusão (0,90%) com a utilização de 6 CH. Outro baixo índice de transfusão (3,1%) foi o dos procedimentos ginecológicos, representando segunda maior solicitação (22%), com média de 2 CH por solicitação, todos os pacientes do sexo feminino com mediana de idade de 42 anos. Foi observado como diagnóstico mais frequente a Miomatose Uterina (50%). O maior número de transfusões (40 CH) ocorreu em procedimentos ortopédicos, 13 delas em artrodeses de coluna, com 70% dos pacientes do sexo feminino e mediana de idade de 49 anos, apresentando um índice de transfusão de 9,6%. Já os procedimentos cardiotorácicos tiveram discreto maior índice de transfusão (10,31%), com transfusão de 33 CH, predominando pacientes do sexo masculino (77%) e mediana de idade de 64 anos.

O número de transfusões efetivas foi baixo, frente ao grande número de reservas. Esse cenário é comumente encontrado em outras instituições, como observado por Alves que demonstrou apenas 5,3% de transfusão dos hemocomponentes solicitados. Isso denota desperdício de trabalho, materiais e do próprio hemocomponente que, de tanto ser manuseado, pode favorecer às lesões de estoque e comprometer a segurança transfusional. A literatura mostra grande impacto na não utilização de hecomponentes solicitados para reserva nos procedimentos urológicos, principalmente as prostatectomias, e nos procedimentos ginecológicos, principalmente as miomectomias. Assim como mostra que os procedimentos ortopédicos e cardiotorácicos apresentam maiores números de transfusões devido à grande perda de sangue e, em traumatismos ósseos, às dificuldades de hemostasia no tecido.

A compreensão do perfil de solicitação e transfusão de reservas cirúrgicas em uma instituição é importante para criação de um Protocolo de Reservas eficiente e seguro. Essa informação auxilia na definição e abastecimento de estoque, no manejo transfusional assertivo, garantindo atendimento das solicitações de transfusão, bem como na gestão dos recursos financeiros e otimização da rotina de trabalho.