
O teste de Antiglobulina Direta (TAD) é um teste que detecta in vivo hemácias sensibilizadas por anticorpos. Existem várias indicações para esse teste, mas utilizamos principalmente para auxiliar no diagnóstico e/ou acompanhamento dos pacientes com anemia hemolítica (AHAI) idiopática ou secundária a doenças como câncer ou doença autoimune. A classe de anticorpo é um teste secundário ao teste de TAD e tem como objetivo verificar a amplitude térmica do anticorpo envolvido (quentes, frios ou induzidos por drogas), a fim de auxiliar na conduta imuno-hematológica. O trabalho tem como objetivo identificar o perfil da classe de anticorpo em pacientes com TAD positivo no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).
Materiais e métodosEstudo transversal analisando testes de TAD e classe de anticorpo no período de fevereiro de 2019 a maio de 2022 no HCPA. As coletas de dados foram realizadas nos equipamentos automatizados e nos prontuários dos pacientes. Foram analisados os seguintes dados: sexo, idade, tipagem sanguínea ABO e RhD, teste de antiglobulina indireta (PAI), TAD, classe de anticorpos (IgG, IgA, IgM, C3c e C3d) e doença base.
ResultadosForam avaliados 243 pacientes e 285 testes de TAD positivos e classe de anticorpos no período estudado. Analisamos todos os testes de classes e TAD no período estudado, visto que o padrão do anticorpo pode se alterar dependendo da situação da doença e tratamento no período analisado. A maioria dos pacientes avaliados eram do sexo feminino (68,3%), com uma média de idade de 51 anos. Em relação ao sistema sanguíneo ABO, a maioria dos pacientes era do grupo O (37,4%) e o fator RhD positivo (78,2%). Ao verificarmos o teste de antiglobulina indireta, 48,6% apresentaram anticorpos irregulares e 11,5% não realizaram o teste. Em relação à identificação de anticorpos irregulares, 41,5% apresentaram anticorpos indeterminados, 40,7% apresentaram apenas um anticorpo, 11,9% apresentaram dois anticorpos e 5,9% apresentaram três ou mais anticorpos. O principal anticorpo encontrado foi anti-E (10,1%). Ao analisarmos a classe de anticorpos observamos que 67,0% eram de classe IgG, 16,1% de classe IgG+C3d, 6,3% apenas C3d e 4,6% IgG+IgM+C3d. A maioria dos pacientes investigados tinha como diagnóstico doenças onco-hematológicas e autoimune.
DiscussãoNossos resultados demonstraram que a maioria dos anticorpos era da classe IgG, ou seja, anticorpos que reagem à temperatura de 37°C, seguido de anticorpos que se ligam ao complemento (IgG+C3d), que corresponde a dados da literatura. Apenas 4,6% dos testes apresentaram anticorpos frios e quentes (IgG+IgM+C3d). Não observamos a presença isolada de IgM e IgA, somente associada a molécula de IgG. Foi verificado que em 41,5% dos casos não foi possível determinar a especificidade do anticorpo. Isso pode ocorrer devido a interferência do autoanticorpo na pesquisa de anticorpo irregular, o que demonstra a importância de sabermos a classificação dos anticorpos envolvidos para conduzirmos as investigações imuno-hematológicas.
ConclusãoO conhecimento da classe de anticorpo pode auxiliar na definição dos testes imuno-hematológicos adicionais, no tratamento adjuvante e na conduta transfusional mais segura, quando for necessário.