
Definir o perfil dos pacientes com diagnóstico de leucemia aguda (LA) no HUPAA/UFAL, sua mortalidade e identificar os fatores de prognóstico mais relevantes nesta população.
Material e métodosEstudo observacional, transversal e retrospectivo, realizado a partir de dados dos prontuários de pacientes no período entre 01/01/2016 e 01/01/2022. Comparações entre grupos foram realizadas por meio de teste T de student, Mann-Whitney, qui-quadrado de Pearson ou teste exato de Fisher, de acordo com as variáveis e sua distribuição. O método de Kaplan-Meier foi usado para análise de sobrevida e a comparação entre grupos foi realizada com teste log-rank (software Jamovi v2.3.13).
ResultadosO grupo foi composto de 81 pacientes (LMA, 56 [69,1%] e LLA, 25 [30,9%]). A mediana de idade no grupo da Leucemia Mieloide Aguda (LMA) foi de 48,5 anos e de Leucemia Linfoide Aguda (LLA) de 33 anos. Nos dois grupos, predominavam o sexo masculino (LMA, 29 [51,8%] e LLA, 15 [60%]), a raça parda (LMA, 50 [89,3%] e LLA, 21 [84%]) e ausência de obesidade ao diagnóstico (LMA, 48 [88,9%] e LLA, 19 [82,6%]). O principal subtipo diagnosticado na LLA foi o B (8 [64%]) e na LMA foi o de LMA com componente monocítico (23 [41,4%]). A maioria dos pacientes apresentavam cariótipo de prognóstico intermediário (LMA, 35 [62,5%] e LLA, 12 [52,2%]). Dos pacientes diagnosticados com LMA e LLA, 51 (91%) e 22 (91,7%) realizaram quimioterapia, respectivamente. Em relação ao transplante 6 (10,7%) pacientes com LMA e 4 (16%) com LLA realizaram TMO. Dos 81 pacientes da amostra, 63 (77,8%) faleceram (LMA, 42 [75%] e LLA, 21 [84%]). A principal causa de óbito foi infecção em ambos os grupos (LMA, 25 [59,5%] e LLA, 13 [61,9%]). A mortalidade precoce (dentro dos 60 primeiros dias do diagnóstico) foi de 48,2% no grupo da LMA e 24% da LLA. A sobrevida média em 1 e 2 anos foi inferior a 50% e 30%, respectivamente, nos dois grupos (Log-rank 0.719). No grupo da LMA, estiveram associados a redução da mortalidade: idade inferior a 50 anos (p <.001; OR 0.0473 [0.00564-0.397]) e o subtipo LMA promielocítica (p 0.021; OR 0.189 [0.0422-0.851]). O tempo superior a 7 dias entre o diagnóstico e o início do tratamento apontou para uma tendência de maior mortalidade (p 0.045; OR 4.10 [0.976-17.2]). Já no grupo da LLA, a idade inferior a 50 anos não mostrou impacto significativo na mortalidade (p 0.184; OR 1.63 [0.190-13.9]).
DiscussãoIdentificamos uma alta taxa de mortalidade precoce e mortalidade associada a infecção nos portadores de LA tratados no HUPAA/UFAL. Para os portadores de LMA, idade acima de 50 anos mostrou associação significativa, assim como parece haver uma tendência a aumento de risco de óbito em pacientes com retardo no início de tratamento. Este intervalo elevado tem como a principal explicação a quantidade limitada de leitos. Os portadores de LMA promielocítica apresentaram melhores taxas de sobrevida, mas ainda consideravelmente inferiores aos da literatura.
ConclusãoO presente estudo é o primeiro a descrever dados dos pacientes com LA tratados no Estado de Alagoas e revela os primeiros 6 anos de experiência do HUPAA/UFAL. As altas taxas de mortalidade precoce e óbito decorrentes de infecção apontam para a necessidade de implementação de medidas mais efetivas de controle de infecção em nosso serviço.