
Na população infantil, o Linfoma de Hodgkin (LH) corresponde a cerca de 5% de todos os casos de câncer. Apresenta aspectos epidemiológicos, clínicos e patológicos característicos de acordo com a área geográfica, principalmente conforme o nível socioeconômico de um determinado país.
ObjetivosEstabelecer o perfil clínico ao diagnóstico de LH de crianças e adolescentes brasileiros, no período de 2019 a 2023.
Material e métodosEstudo transversal, realizado com base em dados epidemiológicos do DATASUS, seção Painel Oncologia, sobre o diagnóstico de Linfoma de Hodgkin (identificado como “Doença de Hodgkin” nessa plataforma) em pacientes pediátricos, período de abrangência de 2019 a 2023. Para fins estatísticos, os casos foram divididos conforme a faixa etária, quais sejam: menores de 1 ano, entre 1 e 4 anos, entre 5 e 9 anos, entre 10 e 14 anos e entre 15 e 18 anos.
ResultadosNo período analisado, foram registrados 1590 diagnósticos de LH na população pediátrica, majoritariamente feitos em indivíduos do sexo masculino (60,9%). Com relação à distribuição geográfica dos casos de LH no Brasil, observou-se que 39,7% foram no Sudeste, 26,3% no nordeste, 16,7% no sul, 9,3% no norte e 8% no centro-oeste. Quanto à idade do paciente ao diagnóstico, 46,5% tinham entre 15 e 18 anos, 32% entre 10 e 14 anos, 17,9% entre 5 e 9 anos, 3% entre 1 e 4 anos e 0,6% menos de 1 ano (n = 10). Tratando-se do estadiamento, observou-se que 19,6% foram alocados no Grupo 0, 12,1% no Grupo 1, 17,4% no Grupo 2, 18,4% no Grupo 3, 15% no Grupo 4 e 17,5% tiveram essa informação ignorada ou foram classificados como “não se aplica”. Dentre as modalidades terapêuticas aplicadas, 78% foram submetidos à quimioterapia, 6,7% à cirurgia e 4,4% à radioterapia. Apenas 1 caso foi submetido às formas de tratamento combinadas e 172 (10,8%) não dispunham de informação a respeito do tratamento.
DiscussãoNa amostra considerada, a idade média ao diagnóstico de LH foi de 13 anos, com predomínio do sexo masculino, semelhantemente ao que é reportado em outros trabalhos. No âmbito de estadiamento, o sistema mais utilizado para descrever a extensão do LH é a classificação Lugano, baseada no antigo sistema Ann Arbor, sendo os estágios descritos por números romanos de I a IV. Neste estudo, observou-se discrepância nos dados do DATASUS, considerando-se a existência do grupo “0”, o qual concentrou o maior número de registros, seguido dos estágios 3 e 4, que correspondem a doença avançada ou extensa. Quanto ao tratamento, a quimioterapia e a radioterapia representam as principais abordagens terapêuticas dos pacientes com LH clássico. Em nossa revisão de dados, a quimioterapia foi realizada por mais da metade dos pacientes, entretanto, um número expressivo necessitou de intervenção cirúrgica.
ConclusãoRegistros de base populacional são relevantes para a monitorização de mudanças no impacto da doença e da qualidade da assistência prestada. A escassez de dados existentes na literatura que ilustrassem o comportamento do LH nas crianças e adolescentes do nosso país encorajou a realização deste estudo, com o intuito de descrever as características clínicas e epidemiológicas dos pacientes pediátricos brasileiros com LH, avaliar sua sobrevida e buscar possível associação prognóstica. A otimização dos registros clínicos nas plataformas de dados nacionais faz-se necessária a fim de que se possa obter a devida interpretação do panorama do LH na população infantil.