
A compreensão quanto à patogênese da Reação Febril Não-Hemolítica Pós-Transfusional (RFNH) é crucial para aprimorar as estratégias de prevenção e manejo desta condição. Este trabalho visa explorar a influência bacteriana na RFNH, a fim de contribuir para a melhoria das práticas transfusionais e para a minimização desta complicação.
Material e métodosNesta revisão, foram buscados artigos dos últimos 10 anos nas bases PubMed e Scielo, com os descritores “Non-Hemolytic Transfusion Reaction” AND “Infeccion”OR “Bacterial Contamination” OR “Pathogenesis”. Dos 40 artigos encontrados, em inglês e português, 3 foram selecionados.
ResultadosO papel das bactérias na patogênese da RFNH ainda é pouco citado. Alguns autores afirmam que esses agentes poderiam sim contribuir para a reação, mas são subnotificados devido à formação de biofilmes e ao fato de não serem passíveis de proliferação nos meios de cultura. As principais vias patogênicas da RFNH seguem associadas à produção de anticorpos anti-HLA e à liberação de citocinas, sendo a contaminação bacteriana colocada como uma etiologia dissociada.
DiscussãoEm artigo de 2020, os autores elucidam que, em um número significativo de casos, os sintomas típicos de RFNH são identificados, mas as culturas de sangue do paciente e/ou da bolsa transfundida são negativas. Isso nos leva a questionar uma possível subnotificação do papel das bactérias na patogênese da RFNH. Sugere-se que a formação de biofilme na bolsa de sangue e a presença de patógenos viáveis, mas não cultiváveis (VBNC), seriam as principais causas dessa subnotificação. Emerge também a compreensão de que, nas transfusões de concentrados de plaquetas, estes fragmentos celulares podem representar agentes-chave, atuando como vetores de contaminação bacteriana, mesmo na ausência de bactérias livres na corrente sanguínea. Em meta-análise de 2024, concluiu-se que o uso de filtros de Leucorredução foi fator protetivo para a ocorrência de RFNH. Contudo, a prática de Leucorredução é associada, particularmente, à prevenção da transmissão de Citomegalovírus (CMV), e não à profilaxia para contaminação bacteriana, não nos permitindo associar necessariamente a RFNH à presença de procariontes no material transfundido. Segundo estudo de 2022 voltado para a patogênese da RFNH, as 2 principais vias são a produção de anticorpos contra o antígeno leucocitário humano dos pacientes transfundidos e a liberação de citocinas (como o pirogênio endógeno e a Interleucina-1) pelos produtos sanguíneos durante o armazenamento. Com efeito, o papel dos microorganismos procariontes nesta reação ainda não é bem considerado, já que as etiologias das Reações Transfusionais (RT) são divididas em vários grupos, em que se coloca a “Reação Febril Não-Hemolítica” e a “Contaminação Bacteriana” como Tipos de Reação distintos, não admitindo, portanto, um entrelaçamento das duas patogêneses e a contribuição das bactérias no desenvolvimento da RFNH.
ConclusãoConclui-se que o papel das bactérias na patogênese da RFNH é pouco consolidado. Cabe-nos agora investigar se esta contribuição de fato é insignificante ou se é subnotificada, como podem sugerir os achados das pesquisas desta revisão.