
Às vezes, a combinação dos antígenos mais comuns na população resulta em produtos nada convencionais. Em palavras simples, na hemoterapia, um fenótipo raro pode significar: “ter algo que ninguém tem ou não ter algo que todos têm”. No caso do sistema Rh por exemplo os antígenos “c pequeno”e “e pequeno”estão presentes em altos percentuais na população, mas a ausência de um deles isoladamente produz fenótipos raros como o CCee(R1R1) no caso do “c”ou o ccEE(R2R2) no caso do “e”, mas a falta de ambos no mesmo indivíduo gera o fenótipo CCEE(RzRz) de baixíssima prevalência na população, o que na prática se traduz no pequeno número de doadores de sangue disponíveis para doação.
Relato de caso: Paciente de 61 anos do sexo masculino internado em unidade hospitalar de Guarapuava(PR) com mieloma múltiplo e insuficiência renal aguda, sem histórico de transfusões anteriores, na ocasião com hemoglobina de 6,7mg/dl, para o qual solicitou-se a transfusão de duas unidades de concentrado de hemácias. Por tratar-se de paciente renal, a agência transfusional do hospital encaminhou a amostra do paciente ao Hemocentro Regional de Guarapuava para fenotipagem estendida. Os exames, utilizando técnicas em gel, identificaram a tipagem ABO/Rh como A positivo, a pesquisa de anticorpos irregulares como negativa e a fenotipagem Rh/Kell detectou o fenótipo CCEE. Como não havia nenhum doador cadastrado no banco de dados do Hemocentro de Guarapuava com o mesmo fenótipo, buscou-se por outros na hemorrede do Paraná.
ResultadosA busca retornou quatro doadores em todo o estado. Dois, não foram localizados, o terceiro estava inapto temporariamente para doação e o quarto, do sudoeste paranaense, compareceu para doação e seu sangue foi transportado até Guarapuava onde, após os testes de compatibilidade, foi transfundido ao paciente sem intercorrências. Pela escassez de outros doadores, buscou-se entre os familiares do paciente possíveis candidatos com o mesmo fenótipo, o qual foi identificado em um de seus irmãos, no caso o quinto doador CCEE do estado. Apesar da doação, o paciente não teve tempo de receber a bolsa coletada por falecer por complicações da COVID-19. As amostras de sangue do paciente e do familiar foram encaminhadas ao laboratório de imunogenética da Universidade Estadual de Maringá(PR) para genotipagem, com resultados 100% concordantes com os fenótipos identificados em Guarapuava.
ConclusãoPacientes e doadores com fenótipo CCEE devem estar cientes das responsabilidades que esta condição genética lhes impõe como: informar com antecedência a classe médica sobre o fato, evitar transfusões de sangue e, no caso dos doadores, manter sempre seus endereços atualizados para facilitar sua localização em caso de convocação.