
Aproximadamente dois bilhões de pessoas sofrem de anemia no mundo. Pesquisas sugerem que compostos endovenosos são mais tolerados que os orais, com tempo de atuação mais rápido, bem como a correção dos estoques. Carboximaltose férrica é utilizada em grande parte dos pacientes, por seu perfil de tolerabilidade, posologia facilitada e reposição rápida dos estoques, porém um dos efeitos colaterais é a hipofosfatemia, que ocorre entre 2-5 semanas da administração. Nosso intuito é relatar o caso de um paciente com diagnóstico de osteomalácia associada ao uso crônico de carboximaltose férrica. Apresentação do caso: Paciente, 51a, admitida em janeiro de 2021 por história de lombalgia associada a febre. Apresentava refratariedade a tratamentos tradicionais com analgésicos, necessitando de abordagens com neuromodulação e infiltração. Investigações revelaram anemia, com discreta plaquetose, perfil de ferro dentro da normalidade, com marcadores de hemólise negativos. Pelo diagnóstico de Telangiectasia hemorrágica hereditária, paciente apresentava-se com anemia ferropriva crônica recidivante e necessidade de uso de terapia com ferro endovenoso (carboximaltose férrica desde 2017). Constatou-se que paciente apresentava quadro de espondilodiscite (L2-L3) em ressonância magnética. Foi solicitado painel osteometabólico pelo quadro de osteoporose, onde se evidenciou aumento importante do PTH, com hiperparatireoidismo secundário, hipofosfatemia e cálcio dentro dos valores de normalidade. Devido ao uso crônico de carboximaltose férrica por mais de quatro anos, com frequência mensal, aventou-se a possibilidade de Osteomalácia secundária à carboximaltose férrica. Em relação aos exames laboratoriais osteo metabólicos, constatou-se um hiperparatireoidismo secundário, com cálcio normal e hipofosfatemia, também hipovitaminose D, corroborando para o diagnóstico de osteomalácia por hipofosfatemia secundária ao uso de Carboximaltose Férrica. A paciente foi tratada para espondilodiscite com antimicrobianos e foram realizadas reposição oral de fósforo, cálcio e vitamina D além da suspensão da Carboximaltose férrica e preferência por reposição de ferro por via oral e transfusões se necessário. Também iniciou uso de antifibrinolíticos tópicos e enterais, quando necessário. E nas semanas subsequentes, apresentou melhora da dor, com queda dos valores de PTH, normalização do cálcio e fósforo.
DiscussãoEm uma revisão sistemática sobre hipofosfatemia associada a terapias de ferro intravenoso para anemia ferropriva, que incluiu 40 estudos, a hipofosfatemia ocorreu em até 92.1% das reposições feitas com Carboximaltose férrica, com incidências muito inferiores para sucrose, ferumoxitol e dextran. Pacientes com hipofosfatemia aguda desenvolviam principalmente fadiga e aqueles com necessidade repetida de reposição de ferro com Carboximaltose férrica desenvolveram hipofosfatemia crônica associada a osteomalácia e deformidades ósseas. Na literatura não há padronização para monitorar os níveis de fosfato. Apesar de múltiplos casos documentados de consequências clínicas graves associadas a certas composições endovenosas de ferro, os trabalhos não trazem informações consistentes sobre frequência e severidade, podendo subestimar sua prevalência.
ConclusãoO diagnóstico da hipofosfatemia requer suspeita clínica. Em pacientes com reposição endovenosa crônica de ferro sugerimos monitoramento dos níveis de fosfato, PTH, cálcio iônico e vitamina D para que iniciemos as profilaxias ou alternativas terapêuticas antes de causar malefício no paciente, seguindo a recomendação do Pai da Medicina: Primo non nocere.
Palavras-chave: Anemia ferropriva; Ferropenia; Osteomalacia; Teleangectasia; Hemorragica hereitaria.