
O Transplante de Células-Tronco Hematopoiéticas (TCTH) é uma modalidade terapêutica que pode beneficiar muitos pacientes com diferentes doenças. No entanto, existem limitações que podem atrasar o tratamento ou impedir que a criança seja transplantada. Assim, é essencial avaliar os motivos mais importantes para identificar oportunidades de melhorar os processos e aumentar o acesso ao TCTH.
ObjetivoIdentificar os principais fatores que dificultam o acesso ao TCTH.
MétodoEstudo de coorte retrospectivo de pacientes encaminhados para TCTH em um centro pediátrico, mas que não foram transplantados.
ResultadosDe dezembro de 2022 a maio de 2023, 119 pacientes foram encaminhados para TCTH, mas 60 (50%) deles não foram transplantados. Estes últimos eram 55% pacientes do sexo masculino, com idade mediana de 6,5 anos (1‒20). Quanto à doença de base, apresentavam leucemias agudas (33%), linfomas (5%), tumores sólidos (18%), doença falciforme (17%), anemia aplástica grave (13%), outras doenças não malignas (13 %). O encaminhamento mais comum foi para TCTH alogênico (78%). Após a revisão desses 60 casos, oito crianças (13,3%) tiveram a história cuidadosamente revisada e ambas as equipes médicas concordaram que o TCTH não estava indicado naquele momento; sete (13,5%) foram encaminhados para outro centro de transplante. Dentre os fatores que contribuíram para que 45 (38%) pacientes não chegassem ao TCTH, notou-se que a principal causa foi a indisponibilidade/inadequação do doador (25%), a doença já havia progredido antes do TCTH (22%), os receptores estavam inaptos (22%) devido à sorologias positivas, necessidade de tratamento odontológico extenso, infecções, necessidade de dessensibilização devido ao painel anti-HLA positivo e HbS elevado com necessidade de transfusões de troca pré-TCTH, óbito (16%), ausência de resposta do médico solicitante (13%) e falta de aprovação da seguradora (2%). A inépcia dos doadores reforçou a necessidade de um doador reserva sempre que possível. A evolução da doença, a inaptidão do receptor e o óbito revelam a necessidade do encaminhamento precoce para os centros transplantadores e de um atendimento integral, para que o paciente e seus familiares possam ser atendidos em todas as suas necessidades, pois outros fatores além da doença de base também podem ter impacto no atraso do tratamento.
ConclusãoObservamos que metade dos pacientes encaminhados não poderia realizar o TCTH, mostrando a complexidade desse acesso e destacando fatores extrínsecos que corroboram para tais limitações. Assim, é de extrema importância a existência de políticas públicas que garantam o acesso de todos os pacientes com indicação de TCTH.