
No primeiro semestre de 2021 realizamos uma série de encontros virtuais transmitidos pela internet (Live) que abordaram as questões relacionadas à úlcera de perna na pessoa com doença falciforme (DF). Relataremos a experiência da Live realizada pelas psicólogas da Fundação Hemominas.
ObjetivosAbordar aspectos psicológicos que permeiam a experiência da pessoa com DF e úlcera de perna. As úlceras de membros inferiores são complicações frequentes em adultos com DF. A importância da abordagem integral da pessoa com DF foi destacada durante a Live, além das experiências negativas e vulnerabilidades psicológicas que podem ser desencadeadas durante o tratamento dessas úlceras. A relação entre os profissionais de saúde e pessoa com úlceras de perna pode ser determinante para um tratamento humanizado se houver espaço para a escuta, participação ativa nos cuidados e vínculo de confiança. Contudo, também, pode gerar sofrimento quando é deslegitimada perante sua história e dor. O surgimento de uma ferida está além da questão orgânica, compromete a condição financeira, social e emocional da pessoa. Quanto a questão financeira, embora a rede pública de saúde ajude no tratamento, sabemos da falta de material em várias Unidades Básicas de Saúde e da dificuldade para que consigam ou mantenham o emprego, sendo necessário que a pessoa e/ou seus familiares ajudem no custeio do tratamento. Quanto a vida social apontamos o isolamento. Grande parte dos pacientes ocultam o tratamento da DF e abrem mão de participar de atividades culturais, de lazer e esportivas, já que a úlcera acaba expondo uma condição de saúde anterior à ferida que é a DF. Freud escreveu em 1914 “...concentrada está a sua alma no estreito orifício do molar”, ou seja, a pessoa canaliza toda a sua energia para a eliminação da dor que sente. A úlcera “corta a vontade de viver”, exigindo todo o seu tempo no tratamento dela. A vida acaba girando em torno da ferida, pois é uma dor que doí o dia todo.
Material e métodosA Live foi divulgada através de grupos de WhatsApp das equipes da Hemominas e de pacientes, e durante o atendimento das pessoas com DF nos ambulatórios da Fundação Hemominas. A plataforma utilizada para a transmissão da Live foi o Google Meet .
ResultadosA participação das pessoas com DF, representantes de associações de pacientes e profissionais de saúde foi satisfatória, gerando bastante interesse na temática.
DiscussãoO adoecimento do corpo causa dificuldades e tem inúmeras repercussões e possíveis implicações subjetivas e particulares no cotidiano que podem desencadear sofrimentos diversos. Dois casos clínicos ilustraram a condução do acompanhamento psicológico ofertado à pessoa durante o tratamento.
ConclusãoAo falar sobre os impasses e questionamentos provocados por estas vivências e de sua escuta, surgem as possibilidades de cuidado e elaboração do sofrimento. É imprescindível uma boa relação com os profissionais de saúde para um tratamento humanizado, onde o olhar do profissional não culpabiliza o paciente e reconhece a pessoa na sua totalidade, com sua história e experiência. Assim, durante a pandemia, as Lives se tornaram ferramentas para conectar profissionais de saúde e pacientes. O viés informativo, as trocas de experiências e o esclarecimento de dúvidas são fundamentais para a continuidade e/ou início dos tratamentos.