
Corrigir ou atenuar os efeitos de déficits cognitivos de forma que os pacientes que vivem com Doença Falciforme encontrem meios adequados e alternativos para alcançar metas funcionais específicas.
MetodologiaEsse trabalho destina-se a relatar uma experiência de intervenção para as queixas cognitivas funcionais relacionadas à atenção, memória, leitura, raciocínio lógico, compreensão e aprendizagem com pacientes que vivem com Doença Falciforme. Essa experiência aconteceu no período entre novembro de 2015 e novembro de 2018. Os pacientes atendidos em nível ambulatorial pelo médico/hematologista da unidade, que apresentavam tais queixas cognitivas eram encaminhados para a fonoaudióloga do serviço em questão seguindo as seguintes etapas: anamnese, rastreio com o instrumento avaliativo Mini-mental (mini-exame do estado mental) e aplicação de um questionário inicial sobre queixas subjetivas de memória (Escala de Queixas Subjetivas de Memória (QSM).pdf). Quando a triagem inicial mostrava escore abaixo do esperado, o paciente era encaminhado para avaliação neuropsicológica (no próprio serviço) com o objetivo de investigar com mais profundidade as habilidades cognitivas afetadas. Os pacientes que participaram da Oficina da Memória possuíam idades entre 16 e 60 anos e não tinham história de AVC prévio. Quando o rastreio cognitivo demostrava resultado dentro do esperado, o paciente recebia por escrito orientações de como “melhorar a memória” no seu dia-a-dia e eram liberados. Já para os que eram encaminhados e retornavam com a avaliação neuropsicológica, era traçado um plano de reabilitação personalizado, de acordo com o resultado. A proposta de reabilitação baseava-se em treino cognitivo que acontecia individualmente, uma vez por semana com duração de 50 minutos por um período de 12 semanas. A escolha dessa metodologia foi baseada na experiência de reabilitação cognitiva em idosos relatada por Golino e Flores-Mendonza (2016) pois, não encontramos estudos semelhantes na área tanto no Brasil quanto fora.
ResultadosForam encaminhados para a “Oficina da Memória” um total de 38 pacientes. Desses, 26 (68,4%) compareceram para a entrevista e rastreio. Desse quantitativo, 15 (57,7%) foram encaminhados para avaliação neuropsicológica e os outros 11 (42,3%) receberam orientações e foram liberados. Dos 15 pacientes elegíveis para o treino cognitivo, 4 (26,6%) abandonaram a intervenção, os demais (73,4%) concluíram o programa até a 12ºsessão quando eram novamente submetidos ao instrumento avaliativo Mini-mental (na ocasião não foi possível encaminhá-los para nova avaliação neuropsicológica em função da dinâmica do serviço). O resultado do reteste mostrou leve melhora do escore em 5 (45,5%) dos 11 pacientes, o restante se mostrou igual. Não houve piora de resultado.
ConclusãoApesar da proposta de intervenção com o treino cognitivo não ter demonstrado efeitos significativos, ela aponta positivamente para a necessidade de conduzir essa proposta de maneira mais ampla e profunda melhorando assim, as condições de captação dos pacientes, avaliação, análise e resultados do programa. Vale ressaltar aqui que uma das limitações do programa é a dificuldade que os pacientes possuem em se manterem assíduos semanalmente nas sessões em função das questões socioeconômica e física que muitas vezes os impossibilitam de se deslocarem até a unidade. É preciso pensar em estratégias que facilitem a aderência dessas pessoas a reabilitação.