
Identificar o perfil dos pacientes oncohematológicos que desenvolveram neutropenia febril (NF) internados em uma unidade hospitalar e relacionar o desfecho de suas internações.
Materiais e métodosEstudo transversal retrospectivo onde avaliou-se os pacientes internados que desenvolveram NF e que foram atendidos pelo serviço de Farmácia Clínica em 2022, na unidade de internação hematológica do Hospital Conceição – Porto Alegre (RS). Utilizou-se dados sociodemográficos para caracterização da amostra, diagnóstico, presença de comorbidade, tempo de internação, protocolo e ciclo de quimioterapia, grau de neutropenia, cultura microbiológica, prescrição de profilaxias, uso empírico de antimicrobianos e necessidade de adequação por cultura, quantidade e tempo de internação e episódios febris. Através do teste de Regressão de Poisson, buscou-se as variáveis de exposição associadas ao risco relativo (RR) de óbito.
ResultadosDos 307 pacientes avaliados, 100 (32,6%) pacientes desenvolveram NF em um total de 149 internações. A mediana de idade foi de 52 anos (14 a 81 anos) sendo que mulheres corresponderam a 53% da amostra. As doenças mais prevalentes foram leucemias (38,3%) e linfoma não Hodgkin, tipo difuso (14,1%). Em 81,9% dos casos, as internações eram para realização de tratamento e a maioria dos pacientes apresentou neutropenia grau 4 (80,5%). Setenta pacientes internaram somente uma vez e 32 pacientes reinternaram até quatro vezes no ano. Em 113 casos, os pacientes apresentaram um episódio de NF por hospitalização, enquanto 26 tiveram entre dois e quatro episódios numa única internação avaliada. Em relação à profilaxia antimicrobiana, esta não foi utilizada em 38 casos, sendo que destes, 24 não possuíam recomendação para tal de acordo com guidelines internacionais. Em 59,9% dos casos, havia antimicrobiano prescrito de forma protocolar caso o paciente apresentasse febre (piperacilina + tazobactam em 58,6% dos casos). Em 69,9% dos exames culturais não houve crescimento de microrganismos e nos casos positivos, Staphylococcus sp. coagulase negativa foi o principal patógeno isolado (29,3%). Houve necessidade de escalonamento em 66,2% dos episódios de NF, com vancomicina como principal agente escolhido (38,1%). O tempo médio de internação foi 26 dias. Houve 122 altas, 26 óbitos e uma evasão. Na análise multivariada, identificou-se que a ocorrência de mais de um episódio de NF por internação (RR: 3,004; p = 0,001; CI 1,584-5,696) e a necessidade de escalonamento de antimicrobiano (RR: 3,449; p = 0,006; 1,415-8,404) estavam relacionadas ao risco de óbito. As demais variáveis estudadas não tiveram correlação estatisticamente significativa com os desfechos.
DiscussãoOs pacientes que desenvolveram NF nesta instituição possuem um perfil heterogêneo, mas, que normalmente sustentam quadros de neutropenia profunda e prolongada, condição essa que gera maior suscetibilidade a infecções e reinfecções, precisando de escalonamento de antibioticoterapia na maioria dos casos. Essas duas situações foram aqui associadas à mortalidade.
ConclusõesNF é uma complicação prevalente em pacientes oncohematológicos que resulta em maior morbimortalidade dessa população, aumentando demanda e gastos de serviços de saúde. Assim, conhecer o perfil de pacientes que desenvolvem NF é fundamental no dia a dia do farmacêutico clínico a fim de aumentar a segurança do paciente e qualificar a assistência prestada.