
Analisar o perfil dos procedimentos de recuperação intraoperatória de sangue e o impacto na redução de transfusões nas cirurgias cardíacas realizadas nos hospitais conveniados à rede SESA(CE)/SUS na cidade de Fortaleza.
Material e métodosTrata-se de um estudo observacional, quantitativo e descritivo de corte transversal, no qual foram coletados dados das fichas de procedimentos de Recuperação Intraoperatória de Sangue (RIOS), realizados em instituições de saúde conveniadas à rede SESA(CE)/SUS na cidade de Fortaleza, nos anos de 2019 a 2021. Foram incluídas no estudo as cirurgias cardíacas de adultos, realizadas pelos hospitais conveniados à SESA(CE)/SUS. Utilizou-se como critério de exclusão: cirurgias em pacientes pediátricos.
ResultadosForam analisados procedimentos de RIOS, em 04 (quatro) instituições de saúde conveniadas à SESA(CE)/SUS. Os procedimentos foram realizados em cirurgias de troca valvar, revascularização miocárdica, plastia valvar, e outros tipos de cirurgia cardíaca. A indicação de RIOS nessas cirurgias seguiu protocolos usuais do serviço. Ao todo foram selecionados 868 procedimentos RIOS entre os anos de 2019 a 2021. O volume total de sangue recuperado ao longo desses anos foi de 452.999ml, com uma média de 523ml de sangue recuperado por procedimento.
DiscussãoA Recuperação Intraoperatória de Sangue (RIOS) é uma técnica que permite autotransfusão, evitando procedimentos transfusionais alogênicos no perioperatório e, consequentemente, reduzindo os riscos de reações e infecções transfusionais. Esta técnica garante ainda que pacientes que se recusem a se submeterem à transfusão alogênica por diversas razões, inclusive religiosas, possam realizar procedimentos cirúrgicos com maior segurança, uma vez que poderão receber transfusão autóloga. Outra vantagem da técnica se concentra na redução da necessidade de hemocomponentes, diminuindo a pressão sobre os estoques de sangue. Ainda que sem uso de circulação extracorpórea, as cirurgias cardíacas possuem risco aumentado para sangramentos, com cerca de 50% dos pacientes necessitando de algum componente transfusional alogênico. Diante desse cenário, 10 a 15% do estoque de sangue nacional são consumidos por cirurgias cardíacas. Em estudos anteriores realizados no Brasil, a média em cirurgia cardíaca de volume recuperado é de 615ml, VIEIRA et al, o que não ficou tão distante da média encontrada em nossos dados que foi de aproximadamente 523ml, tendo uma diferença de 92ml na média de sague recuperado comparando os estudos. Com aproximadamente 453.000ml de volume total de sangue recuperado ao longo dos anos, tal número que equivaleria em uma comparação em contagem absoluta a 1.812 bolsas de Concentrados de Hemácias de estoques do hemocentro ao longo dos anos de 2019 a 2021.
ConclusãoO procedimento RIOS é uma técnica consolidada em serviços de Hematologia e Hemoterapia e apresentou resultados satisfatórios e expressivos nas cirurgias cardíacas ao longo dos anos 2019 a 2021 no nosso estudo, e isso permitiu uma diminuição da pressão sobre os estoques de hemocomponentes alogênicos do hemocentro, causada por esses tipos de cirurgias, trazendo dessa forma uma maior segurança para o paciente e equipe cirúrgica.