Analisar comparativamente as características relativas aos gastos destinados à saúde para tratamento de pacientes internados por Leucemias antes, durante e após a pandemia de COVID-19 no Piauí.

O estudo ecológico, de caráter descritivo e retrospectivo. Os dados utilizados foram obtidos mediante o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), em que foi analisado o perfil de internações ocasionadas por leucemias, os gastos empreendidos com esses pacientes, o tempo médio de permanência, a quantidade total de internações e o número de óbitos no período de janeiro de 2019 a maio de 2022. Os dados foram agrupados no Microsoft Excel®, realizada análise estatística descritiva, frequência absoluta e relativa.

Durante a pandemia, houve redução de 14,6% no número de internações (779 em 2019 e 665 em 2020) e de 35,5% no valor total gasto com pacientes portadores de Leucemia no estado do Piauí (R$ 2.287.368,42 em 2019 e R$ 1.476.495,97 em 2020). A tendência foi seguida nos anos de 2021 e 2022 (R$ 1.367.601,50 em 2021 e R$ 611.316,64 até maio 2022). A média de permanência em 2019 foi de 8,6 dias, enquanto no período de pandêmico e pós-pandêmico reduziu para 8 dias. O número de óbitos também obteve queda de 34,3% quando comparado ao ano anterior da pandemia de COVID-19 (67 óbitos em 2019 e 44 óbitos em 2020).

As leucemias compõem um grupo heterogêneo de neoplasias hematológicas resultantes da transformação total ou parcial das células blásticas. Essa doença tem o caráter de alta prevalência e taxa de mortalidade considerável, tornando-se imprescindível tomar estratégias a fim de assegurar a detecção precoce, que é obtido com a associação do diagnóstico precoce com o rastreamento, segundo a organização mundial de saúde. O diagnóstico precoce acontece quando se tem profissionais bem treinados e uma população bem-informada acerca dos sinais e sintomas das leucemias e com acesso garantido as unidades de saúde, enquanto o rastreio é uma busca ativa entre um grupo específico de pessoas que tem maiores chances de virem a desenvolver. Durante a pandemia essa detecção precoce foi prejudicada e, contrariando as estatísticas, os números de novos casos diminuiu, consequência do foco das campanhas e da detecção precoce ter sido direcionado ao COVID-19, sugerindo também subnotificações, os números de internações caiu, consequência da falta de leitos, que eram destinados aos pacientes com síndromes respiratórias no período de 2020. A queda nos gastos também é consequência da própria diminuição das internações, mas também das verbas para saúde pública terem sido mais direcionadas para dar suporte ao tratamento dos pacientes com COVID-19. Isso pode ser inferido através da análise de custo médio por paciente. Por fim, a queda do número de óbitos também foi alta, mas se manteve inalterada entre 2020 e 2021, o que sugere falta de autopsia e até subnotificação e notificações errôneas, tendo em vista que pacientes leucêmicos são mais propensos a infecções, como a própria COVID. Infere-se que os pacientes leucêmicos do Piauí tenham ido a óbito e notificados como por COVID ou procurado assistência em maiores polos de saúde em outros estados.

Após a análise comparativa dos dados coletados, pode-se concluir que houve uma diminuição significativa, tanto na quantidade e tempo médio de internações e na mortalidade, quanto nos gastos para cuidar desses pacientes.