
Descrever o impacto no número de doações de sangue e na sua segurança, causado pelo desastre climático ocorrido no Rio Grande do Sul em maio de 2024, em um banco de sangue de referência em Porto Alegre, RS.
Materiais e métodosObteve-se dados relacionados ao período imediatamente anterior (abril/2024) e durante (maio/2024) o maior desastre climático do Rio Grande do Sul e correlacionou-se com dados de períodos anteriores a fim de observar se houve diferenças estatisticamente significativas.
ResultadosDurante os meses de abril e maio de 2024 houve 1600 e 1233 doações de sangue, respectivamente, com uma média de 61 e 49 doações por dia. A redução no número de doações em maio corresponde a 22,9% quando comparado com o mês de abril, com diferença estatisticamente significativa (p = 0,0001). Também houve diferenças em números de doação quando comparado aos meses de maio de anos anteriores, com uma redução de 9,0% em 2023 e 22,9% em 2022. Quanto às primeiras doações, houve 740 candidatos à primeira doação, destes 698 foram aprovados (94,3%), 41 tiveram recusa temporária (5,5%) e 1 recusa definitiva (0,1%). No mês de maio houve 688 candidatos à primeira doação, dos quais 628 foram aprovados (91,3%), 58 foram recusados temporariamente (8,4%) e 2 definitivamente (0,3%). Ao total, no mês de abril as primeiras doações somaram 38,0% e em maio somaram 43,2%, enquanto os doadores de repetição contabilizaram respectivamente 61,9% e 56,7%. Sobre a segurança do sangue, das 1600 doações do mês de abril, 49 tiveram sorologia não negativa (3,06%). Entre os não negativos, a maioria ocorreu nos testes de Sífilis (25), seguido por HBC (6). No mês de maio, das 1233 doações, 30 tiveram sorologia não negativa (2,4%) sendo que o teste mais detectado foi novamente o de Sífilis (11), também seguido por HBC (6). Não foi constatado diferença estatisticamente significativa (p = 0,06).
DiscussãoO desastre climático no Rio Grande do Sul causou grandes problemas, entre eles a dificuldade dos doadores de acessar o banco de sangue. Frente a isso, para manter os estoques, foi preciso entrar em contato com doadores de repetição já conhecidos. Isto fez com que o número de doadores de repetição fosse maior do que o número de doadores de primeira doação, contrastando com os mesmos meses de anos anteriores ao desastre, onde mais de 70% do total de doações eram de primeiras doações. Além disso, o alto número de sorologias não negativas para sífilis pode ser associado ao uso de mais de um método de análise para pesquisa.
ConclusãoÉ possível concluir que desastres causam impactos significativos no número de doadores de sangue. Em desastres que dificultem o deslocamento, como o observado em Porto Alegre, haverá uma queda na taxa de doações. Em posse da informação de que é possível prever o comportamento dos doadores frente a diferentes tipos de desastres, torna-se necessária a criação de planos de ação prévios em resposta aos impactos gerados por desastres.