
Apesar dos avanços no tratamento da Leucemia Promielocítica Aguda (LPA), a morte precoce (MP) ainda é o principal obstáculo para o sucesso terapêutico. O objetivo do presente trabalho foi determinar a taxa de morte precoce e suas causas em pacientes adultos com LPA.
Material e métodosO estudo foi do tipo transversal e quantitativo de coorte retrospectiva com análise de dados secundários. A pesquisa avaliou todos os 141 pacientes, do Estado de Pernambuco e atendidos no Hospital Hemope com diagnóstico de LPA, no período de janeiro de 2007 a dezembro de 2018. Os pacientes foram considerados elegíveis ou não ao protocolo de tratamento IC-APL 2006 e o óbito foi considerado para os trinta primeiros dias do tratamento.
ResultadosNo estudo foram incluídos 126 pacientes, devido à exclusão por transferência do hospital ou dados ausentes no prontuário. A taxa de MP para os dois grupos foi de 23%, no entanto, a taxa para os pacientes elegíveis ao protocolo de tratamento foi de 15,3% (15/98) enquanto para os não elegíveis ela alcançou 50% (14/28) dos casos. A principal causa de MP geral foi a hemorragia (48%) e em seguida a infecção (32%). Entre os grupos de pacientes elegíveis e não elegíveis ao tratamento as causas de MP foram, respectivamente, hemorragia (59% e 36%) e infecção (29% e 36%). Os principais sítios de sangramento foram o sistema nervoso central (47%), os pulmões (33%) e aparelho digestivo (13%). Todos os pacientes que tiveram foco de infecção identificado (40%) apresentaram infecção do trato respiratório.
DiscussãoNo grupo de pacientes elegíveis ao protocolo de tratamento, a taxa de MP foi semelhante aos resultados encontrados em estudos internacionais. No grupo de pacientes não elegíveis, a taxa de MP foi superior a valores encontrados no Brasil antes da introdução do protocolo de tratamento do IC-APL 2006. As principais causas de MP foram concordantes com trabalhos publicados, sendo a hemorragia a causa de óbito mais frequente e o sistema nervoso central o principal sítio. Entre os pacientes elegíveis, houve maior discrepância entre a taxa de óbitos por hemorragia e infecção, enquanto entre os pacientes não elegíveis, ambas as causas apresentaram a mesma frequência. Este fato pode ser atribuído à maior gravidade dos casos e susceptibilidade à mielotoxicidade dos tratamentos para os pacientes não elegíveis, entre outras causas, o que sugere a necessidade de aprofundamento do estudo.
ConclusãoA taxa de MP foi diferente entre os grupos elegível e não elegível ao protocolo IC-APL 2006. Essa diferença pode ser atribuída às características clínicas basais dos pacientes e aos esquemas terapêuticos utilizados. Em geral, as principais causas de óbito foram a hemorragia e a infecção. Os resultados mostram a necessidade de buscar alternativas terapêuticas efetivas para os pacientes considerados não elegíveis ao atual protocolo, devido à maior ocorrência de MP neste grupo, especialmente por causas infecciosas.