
Descrever os dados de mortalidade por aplasia de medula óssea do Brasil no período de 20 anos (2000 a 2019).
Material e métodosEstudo descritivo que avaliou a mortalidade por aplasia de medula óssea em todo o território nacional entre 01/01/2000 a 31/12/2019 com base em dados procedentes do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM - DATASUS), disponibilizados pelo Ministério da Saúde do Brasil, considerando a unidade da federação (UF) do registro do óbito. Para identificação da doença, incluíram-se dados que continham em qualquer campo do atestado de óbito (causa básica, causas intermediárias, causa imediata e causas contribuintes) pelo menos um código da Classificação Internacional de Doenças (CID) para Aplasia de Medula Óssea: CID-10 D60 e D61 e subcategorias. Excluíram-se os registros com etiologia oncológica como a causa básica de óbito associada à aplasia. Por análise descritiva foram exploradas as variáveis: idade, gênero, localização e causas de óbito atestadas.
ResultadosRegistrou-se durante o período de análise dos dados 15.157 óbitos por aplasia de medula óssea, dos quais 83,3% entre 30 e 40 anos de idade. A média de idade do óbito foi de 37±2,9 anos com mediana de 38 anos. Um total de 50,6% eram homens e a maioria dos registros (22,9%) de óbitos eram de residentes no Estado de São Paulo. A região sudeste correspondeu a 48,3% dos óbitos, seguida por Nordeste (23,1%) e Sul (14,9%). A frequência de óbito registrada a cada ano também foi gradativamente maior desde 2000 (n = 521; que representa 3,4%) até 2019 (n = 902; equivalente à 5,9%). Como causa básica na declaração de óbito, o principal registro foi da CID-10 D61.9 (anemia aplástica não especificada) com 85,8%. A causa imediata referida do óbito, por sua vez, foi septicemia não especificada em 27,9% dos registros, seguida por outros sintomas e sinais gerais especificados (13%) e insuficiência respiratória aguda (7%).
DiscussãoA aplasia de medula óssea é uma rara doença hematológica que pode acometer os pacientes desde a infância e apresenta elevado grau de morbidade e mortalidade. Dados da literatura mostram a quinta década como pico do óbito, porém incluem mortalidade relacionada a doenças neoplásicas, as quais são mais frequentes quanto mais idoso. Nota-se que a frequência do óbito aumentou a cada ano, tendo como hipótese o maior reconhecimento da doença e colocando a mesma como causa básica. A maior frequência na região Sudeste pode estar relacionada não só à maior densidade demográfica, porém a maior distribuição de centros transplantadores e referência de tratamento. Como esperado, as principais causas imediatas de óbito foram septicemia e doenças respiratórias. Faz-se importante ressaltar que a falha de preenchimento de declaração de óbito é o principal viés para o estudo. A presença de 13% dos registros que identificaram na linha de causa imediata do óbito o CID referente a outros sintomas e sinais gerais especificados é apenas um exemplo da carência de dados mais concretos, os quais poderiam ajudar na compreensão da doença e de políticas e medidas para evitar o desfecho.
ConclusãoO óbito por aplasia de medula óssea acomete mais a terceira década de vida e a taxa de mortalidade tem se elevado ao longo dos últimos 20 anos. Reforça-se o adequado registro na declaração de óbito para melhores descrições futuras.