
Paciente B.A., masculino, 67 anos, pardo, aposentado (ocupação prévia: taxista), sem ensino médio concluído. Histórico de doença pulmonar obstrutiva crônica - DPOC (tabagista 1 maço/dia há 55 anos, aproximadamente), obesidade grau III, hipertensão arterial sistêmica e hiperplasia prostática benigna, fazendo uso irregular de finasterida, doxazosina, ácido acetilsalicílico, hidroclorotiazida, enalapril e salbutamol. Foi encaminhado para hospital terciário originalmente para avaliação cardíaca e pneumológica devido quadro de dispneia persistente ao repouso. Em admissão, chamava a atenção volumosa massa têmporo-parietal á direita, recoberta por lâmina cutânea, de consistência pétrea, aderida à planos profundos, que paciente referiu notar há aproximadamente 3 meses. Também evidenciado dor á abdução do membro superior direito (MSD), incapacitando amplitude do movimento, há aproximadamente 1 mês segundo o paciente, que nunca procurou atendimento específico para esses achados. Observado também a dependência de oxigenoterapia suplementar, com gasometrias seriadas apresentando critérios de hipoxemia e acidose respiratória. Seus exames admissionais demonstraram: Hb: 10,7 g/dL — VCM: 87 fL — Leucócitos totais: 9.470 — Segmentados: 64% — Plaquetas: 334.000 — Reticulocitos: 2,9% — Ácido úrico: 9,7 mg/dL — Cálcio total: 11,4 mg/dL — Creatinina: 1,52 mg/dL — Ureia: 69 mg/dL — RNI: 1,5. Uma suspeita de mieloma múltiplo foi levantada. Eletroforese de hemoglobinas com pico monoclonal de 24% em setor gama (proteínas monoclonais 1,01 g/dl) e B-2-microglobulina de 7,5 mg/L. Sua tomografia (TC) de crânio descreveu a lesão como “expansiva neoplásica, extra-axial, medindo 13,6 x 12,0 x 6,8 cm, densidade e reforço heterogêneo e calcificações de permeio, com áreas centrais de padrão vascular. Há erosão óssea adjacente e efeito de massa local, com discreta compressão do parênquima cerebral adjacente e do ventrículo ipsilateral”. A TC de tórax demonstrou enfisema panlobular extenso, grau IV, com faveolamento periférico extenso. Ecocardiograma com fração de ejeção de 66% (Teicholz), desempenho sistólico de ventrículo direito deprimido em grau discreto e hipertensão pulmonar. Radiografia de crânio com inúmeras lesões osteolíticas em saca-bocado (a maior, de 9 mm) e ressonância de MSD com formação expansiva, com epicentro na medular da diáfise umeral, insuflativo, ruptura da cortical e volume 7,4 x 3,9cm. Realizado biópsia da lesão craniana e da medula óssea, evidenciando aumento de células plasmocitoides, com medula tomada por aproximadamente 70% de plasmócitos (imunofenotipagem: CD10- CD56+). Paciente diagnosticado com DPOC mMRC 4 — CAT 36 e mieloma múltiplo ISS – III, Durie-Salmon III-A. Para o quadro pulmonar, foi prescrito beclometasona, formoterol e glicopirrônio inalatórios e oxigenoterapia suplementar domiciliar com cateter nasal e máscara on demand. Em avaliação ortopédica, optado por manejo conservador da lesão em MSD com analgesia e imobilização. Optado por tratamento com ciclo inicial de talidomida, dexametasona e ácido zoledrônico e, para lesão craniana, realizado ciclo de 5 sessões de radioterapia com 20 GY / 5 FR. Paciente evoluiu a óbito, em vigência de acompanhamento, 8 meses após o diagnóstico.
DiscussãoPaciente com DPOC avançado e diversos critérios de prognóstico sombrio para mieloma múltiplo. Consta que em média, 50% dos mielomas com plasmocitoma secundário evoluem a óbito em 6 meses pós-diagnóstico.