
Relatar um caso de linfoma difuso de grandes células B (LDGCB) concomitante à infecção gástrica por citomegalovírus (CMV).
MetodologiaDados foram obtidos de forma sistemática, por entrevista e revisão de prontuário, autorizado pelo paciente.
Relato de casoMasculino, 58 anos, encaminhado ao ambulatório de hematologia do Hospital de Base por epigastralgia e náuseas há 2 anos, em piora progressiva e perda ponderal de cerca de 10% do peso em 3 meses. Apresentava endoscopia digestiva alta (EDA) externa com lesão ulcerada em corpo gástrico e biópsia com infiltrado linfocitário atípico e áreas de ulceração, que sugeria neoplasia linfoproliferativa de células B, incluindo LDGCB como possível diagnóstico, associado a infecção por CMV. Realizada nova EDA e biópsia da lesão em nosso serviço, com imunohistoquímica compatível com linfoma B de alto grau, positividade imunohistoquímica para CMV e pesquisa de helicobacterpylori negativa. Apresentava anticorpo IgM para CMV não reagente, IgG reagente maior que quatro vezes o cutoff e reação em cadeia de polimerase (PCR) positiva para CMV.A tomografia por emissão de positrons (PET CT) mostrava hipermetabolismo gástrico e de linfonodos abdominais, SUV de 17. Paciente foi hospitalizado para tratamento de CMV gástrico, com ganciclovir por 14 dias. Após término do antiviral, novo PET mostrou discreta redução do hipermetabolismo dos linfonodos e das lesões gástricas, porém mantido SUV de 12.Diante disso, foi iniciado tratamento quimioterápico com rituximab, ciclofosfamida, doxorrubicina, vincristina e prednisona (RCHOP), em curso até o momento.
DiscussãoLDGCB é o mais frequente linfoma não Hodgkin. Neoplasia com heterogeneidade morfológica, imunofenotípica e molecular, é marcada pela presença de células neoplásicas linfoides, com marcadores CD20 e CD19 positivos, podendo também expressar CD10, BCL6 e MUM1. É um linfoma de alto grau, com comportamento agressivo, porém até 2/3 dos pacientes podem ser curados com esquema padrão RCHOP, em uso pelo paciente. Assim como a maioria dos linfomas, fatores de risco podem ser associados ao desenvolvimento da neoplasia, como infecções, imunodeficiência e doença autoimune. Quanto às infecções, são descritos casos de associação de LDGCB a infecção por helicobacter pylori e epsteinbarr vírus, com raros relatos de CMV associado. A infecção por CMV restrita a um órgão é limitada a poucos relatos. Na mucosa gástrica, tem comportamento de ulceração em até 50% dos casos. Uma mucosa anormal previamente a infecção por CMV também parece aumentar o risco de infecção local. O diagnóstico é feito por meio de PCR, além de histologia e imunohistoquímica. O tratamento baseia-se em terapia antiviral e, se falha, deve-se considerar outras infecções concomitantes e causas não infecciosas associadas, como presente neste relato de caso.
ConclusãoÉ documentado que infecções virais aumentam o risco de desenvolvimento de linfomas não Hodgkin, como Epsteinbarr vírus e HIV, mas são escassos os relatos de infecção por CMV e linfomas. São raros também relatos de CMV gástrico isolado. Assim, o presente caso expõe situação incomum, em que tanto o acometimento por CMV pode ter predisposto ao surgimento de LDGC gástrico, quanto a presença de uma neoplasia local pode ter colaborado para sítio de infecção por CMV. Independente da correlação temporal, o tratamento proposto é a erradicação do fator de risco, bem como o tratamento antineoplásico direcionado.