
Descrever caso de linfoma agressivo, com lise tumoral, diagnosticado por biópsia de medula óssea, sem linfonodomegalia, linfocitose ou massa Bulky.
Material e métodosRevisão de dados de prontuário.
ResultadosPaciente feminina, 52 anos, zeladora, tabagista. Encaminhada por quadro com 3 meses de evolução de febre diária, prostração, dor abdominal difusa e vômitos. À admissão no HURCG apresentava hemoglobina 9 g/dL, VCM 77 reticulócitos 57000/mm3, leucócitos 11.250/mm3, (neutrófilos 8066, linfócitos 574, monócitos 2599) plaquetas 234.000/mm3, ferro sérico <10 mcg/dL, IS incalculável, ferritina 1500 ng/mL, LDH superior a 1000 UI/L, ácido úrico 4,5 mg/dL, bilirrubinas totais 1,5 mg/dL, RNI 1,25, RPN 1,77, sorologias para HCV, HIV e HBV não reagentes. Hemoculturas pareadas negativas. Tomografia de abdome evidenciou fígado com dimensões aumentadas, com imagens hipodensas esparsas mal definidas, algumas com realce ao contraste, com até 22 mm; baço com dimensões aumentadas, com imagens hipodensas ovaladas esparsas de até 23 mm; espessamento difuso da adrenal esquerda. Sem adenomegalias em retroperitônio e pelve. A endoscopia digestiva alta demonstrou pangastrite enantematosa discreta, sem lesões ou sangramentos. O exame anatomopatológico diagnosticou gastrite crônica superficial leve em atividade, com presença de H. pylori, edema difuso da mucosa gástrica e discreto exsudato grânulo-mononuclear. Colonoscopia sem alterações. A avaliação de medula óssea teve resultado do anátomo-patológico com infiltrado celular atípico, com células linfoides grandes atípicas em 50% do parênquima e fibrose reticulínica grau 1 focal. A imunofenotipagem descreveu presença de linfócitos B clonais com fenótipo aberrante, com tamanho e complexidade celular aumentados, além de marcadores CD45, CD5, CD19, CD20, CD79b, CD200, CD81, CD25, FMC7, CD22 e HLA-DR positivos, compatível com linfoma não-Hodgkin (LNH) B de alto grau. Evoluiu com episódios recorrentes de taquicardia ventricular não sustentada e instabilidade hemodinâmica com necessidade de doses crescentes de drogas vasoativas. A piora clínica impediu que fosse realizada a biópsia dos nódulos hepáticos. Submetida a intubação orotraqueal por rebaixamento do nível de consciência e insuficiência respiratória. Progressivamente desenvolveu disfunção renal com acidose metabólica grave refratária a medidas clínicas, anemia, plaquetopenia, disfunção hepática, LDH superior a 15000 UI/L e coagulopatia grave, com óbito após poucos dias.
DiscussãoLinfadenopatia e sintomas B estão presentes em aproximadamente metade dos casos de LNH. Os linfomas extranodais primários são muito menos frequentes do que os nodais, acometendo principalmente o trato gastrointestinal. Neste caso, não foi evidenciada linfonodomegalia nem lesões acessíveis por endoscopia digestiva alta e colonoscopia. Apesar do alto índice de proliferação celular, a síndrome de lise tumoral espontânea é rara, mas pode ser a apresentação de abertura do quadro.
ConclusãoOs linfomas sempre devem ser considerados dentre os diagnósticos diferenciais em pacientes com febre de origem obscura, mesmo que não se observe linfonodomegalia regional ou generalizada.