HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA leucemia mieloide crônica (LMC) é uma neoplasia mieloproliferativa associada à translocação t(9;22)(q34;q11), que origina o cromossomo Filadélfia e o oncogene BCR-ABL, cuja quinase promove proliferação celular descontrolada. Representa cerca de 15% das leucemias em adultos, com incidência de 1-2 casos por 100.000 adultos/ano. O quadro clínico pode incluir fadiga, perda de peso, sudorese noturna, febre baixa e esplenomegalia. Outras manifestações incluem alterações hematológicas (leucocitose, trombocitose, anemia) e manifestações hemorrágicas. O diagnóstico de LMC envolve hemograma, cariótipo e confirmação molecular do BCR-ABL. O tratamento baseia-se no uso de inibidores de tirosina quinase (ITKs), com ajuste conforme resposta e perfil mutacional. Objetivo: Relatar um caso de LMC resistente ao imatinibe por mutação do domínio quinase ABL (E233V) com resposta terapêutica ao dasatinibe.
Descrição do casoL.R.V., 45 anos, masculino, quadro de dor no flanco esquerdo e perda ponderal de 6 kg em agosto/2022. Ao exame, notou-se esplenomegalia. BCR/ABL detectado em 53,01% dos transcritos. Iniciou Imatinibe 400 mg/dia, com ajuste por leucopenia em setembro/2022. Evoluiu com resposta hematológica parcial e com carga molecular estável em 0,1% até maio/2023. Em junho/2023, esplenomegalia persistia e BCR-ABL aumentou para 0,6%. Em novembro/2023, houve aumento da carga para 1,2%, apesar da ausência de sintomas e em dezembro/2023 foi detectada mutação E233V, associada à resistência ao Imatinibe e ao Nilotinibe. Iniciou-se Desatinibe 100 mg/dia em abril/2024 com resposta molecular profunda, com BCR-ABL reduzido para 0,005% em julho/2024 e 0,0019% em março/2025. Até junho/2025, mantinha-se assintomático e ativo, em uso contínuo de Dasatinibe sem eventos adversos importantes.
DiscussãoO caso ressalta a relevância do monitoramento molecular regular para detectar falhas terapêuticas e mutações associadas à resistência aos ITKs. O paciente apresentou sintomas inespecíficos, como esplenomegalia e perda ponderal, sendo diagnosticado com LMC. O tratamento inicial seguiu o protocolo padrão com Imatinibe, sendo necessário ajuste posológico devido à leucopenia. O paciente apresentou resposta molecular inicial adequada de acordo com os Guidelines do ELN. Entretanto, observou-se perda progressiva da resposta molecular, com elevação da carga de BCR-ABL para 1,2% e persistência da esplenomegalia. A detecção da mutação E233V no gene ABL1, associada à resistência ao Imatinibe e ao Nilotinibe, justificou a troca para Dasatinibe. A resposta foi satisfatória, com BCR-ABL1 reduzido para 0,005% e, depois, 0,0019%, alcançando resposta molecular profunda.
ConclusãoO caso reforça a importância do monitoramento molecular e da análise mutacional no manejo da LMC, especialmente diante da perda de resposta aos ITKs iniciais. A mutação E233V, somada à resistência ao Imatinibe e Nilotinibe, direcionou a escolha pelo Dasatinibe, que resultou em resposta molecular profunda. Assim, este relato reforça como um tratamento individualizado, guiado por dados clínicos, laboratoriais e genéticos, possibilitou controle da carga tumoral e manutenção da qualidade de vida a partir de intervenções precoces eficazes.




