HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosDescrever caso de paciente com hanseníase multibacilar prévia, em uso de talidomida, que apresentou reação hansênica tipo 2 concomitante ao diagnóstico de leucemia mieloide aguda (LMA), discutindo aspectos diagnósticos e terapêuticos frente à sobreposição das condições.
Materiais e métodosRevisão de dados clínicos, laboratoriais, histopatológicos, microbiológicos e de imagem obtidos de prontuário eletrônico, organizados cronologicamente desde a admissão até a alta hospitalar.
Descrição do casoMulher, 42 anos, portadora de hanseníase multibacilar tratada previamente com PQT, uso crônico de talidomida e corticoterapia eventual para reação hansênica. Procurou atendimento por dor abdominal crônica com piora recente, epistaxe volumosa e hematêmese. Exame físico: hipocorada, ictérica, esplenomegalia (21 cm) e lesão ulcerada em lábio maior esquerdo. Hemograma: anemia grave, plaquetopenia e leucocitose blástica. Imunofenotipagem: 92% de blastos de linhagem mieloide imatura, com expressão aberrante de CD7, CD56 e CD36. Biópsia de medula: hipercelularidade com predomínio de blastos; IHQ compatível com LMA. Cariótipo: 46,XX; NPM1 e FLT3 negativos. Classificada como LMA risco intermediário, iniciou indução 7+3 (citarabina + daunorrubicina). Durante internação, lesões cutâneas dolorosas e difusas, inicialmente atribuídas à reação hansênica, pioraram após suspensão de talidomida. Prednisona 40 mg/dia foi introduzida, com melhora. No D10 de quimioterapia, desenvolveu diarreia aquosa e febre, TC abdominal sugeriu biliopatia portal por transformação cavernomatosa da veia porta. No mesmo período, identificada estrongiloidíase disseminada, motivando suspensão de prednisona e início de ivermectina. Evoluiu com neutropenia febril prolongada, necessidade de escalonamento antibiótico e suspeita de fusariose cutânea, iniciando voriconazol. Houve nova piora cutânea no D24, com reintrodução de prednisona 1 mg/kg e talidomida 200 mg/dia. Apresentou taquidispneia, múltiplos nódulos pulmonares na TC, sugerindo acometimento infeccioso, e instabilidade respiratória no D25, necessitando O₂ suplementar e UTI. Após melhora clínica progressiva, recebeu alta no D30 afebril, com regressão das lesões cutâneas e estabilidade clínica.
DiscussãoA coexistência de LMA e reação hansênica tipo 2 representa desafio terapêutico, pois o controle da inflamação hansênica depende de imunossupressão, enquanto a LMA exige quimioterapia mieloablativa e suporte imunológico. A imunossupressão exacerba o risco de infecções oportunistas, como estrongiloidíase disseminada e fusariose, ambas presentes neste caso. A decisão de suspender e reintroduzir corticoides foi guiada pelo balanço entre risco infeccioso e controle da reação hansênica. O manejo multidisciplinar (hematologia, dermatologia, infectologia, hepatologia e pneumologia) foi fundamental para o desfecho favorável inicial.
ConclusãoO caso evidencia a complexidade diagnóstica e terapêutica de pacientes com LMA e reação hansênica tipo 2 concomitantes, ressaltando a importância de abordagem individualizada para controle da inflamação, prevenção de infecções graves e manutenção da terapia antileucêmica.




