HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosNeoplasias mieloides/linfoides com rearranjo gene receptor 1 do fator de crescimento do fibroblasto (FGFR1) compreendem um grupo agressivo e raro de doenças onco-hematológicas. Origina-se da translocação do cromossomo 8p11.2 podendo se manifestar de forma heterogênea como leucemia mieloide aguda, leucemia linfoblástica aguda B ou T, leucemia bifenotípica aguda ou neoplasia mieloproliferativa crônica com eosinofilia. Tal discrepância fenotípica deve-se aos diferentes genes de fusão associados ao FGFR1. Por exemplo, translocações envolvendo o gene BCR são associadas a leucemia linfoblástica aguda B, enquanto translocações com o gene ZMYM2 levam a leucemia linfoblástica T.
Descrição do casoMS, masculino, 67 anos, internado para tratamento de pneumonia, evolui com 31% de blastos em sangue periférico. Diagnosticado com leucemia mieloide aguda em setembro de 2024. Inicialmente, mielograma evidenciou hipercelularidade de série granulocítica com eosinofilia e imunofenotipagem com 9% de blastos mieloides típicos. Cariotipo realizado na mesma ocasião demonstrou cariótipo complexo incluindo ganho do cromossomo 8 e deleção de parte do braço curto do cromossomo 8. De forma concordante, o resultado do FISH detectou 3 cópias dos genes RUNX1T1 (cromossomo 8) e PML (cromossomo 15) em 99% dos núcleos analisados. Tendo em vista resultados, avaliação complementar com painel NGS evidenciou fusão dos genes PML-FGFR1 e FISH para PDGFRA/PDGFRB/FGFR1 realizado em sangue periférico detectou 3 cópias da região D8Z2 e ganho de uma cópia do gene FGFR1 com rearranjo do gene (cromossomo 8) em 95% dos núcleos analisados. Paciente realizou tratamento oncológico com azacitidina e venetoclax, atingindo remissão citomorfológica e doença residual mensurável indetectável ao término do primeiro ciclo. Encaminhado para avaliação de transplante alogênico de medula óssea, o qual foi realizado após 5 ciclos. Evoluiu a óbito de complicações do procedimento.
ConclusãoDevido a heterogeneidade clínica, o diagnóstico de neoplasias mieloides/linfoides com rearranjo FGFR1 pode ser atrasado ou erroneamente classificado. Anormalidades associadas ao FGFR1 podem ocorrer a despeito de eosinofilia, dificultando a hipótese clínica. Avaliação por FISH deve ser realizada em pacientes com a translocação do 8p para confirmação do rearranjo FGFR1. Não há terapia de indução padrão estabelecida e estudos sugerem possível resistência do rearranjo FGFR1 a quimioterapia nas neoplasias mieloides. Ponatinib, um inibidor de tirosina quinase de terceira geração possui alta afinidade pelo rearranjo FGFR1, sendo uma opção de tratamento associada a quimioterapia para possibilitar o transplante alogênico de medula óssea. Mais estudos são necessários para determinar a melhor combinação do Ponatinib com quimioterapia e até mesmo o uso como terapia de manutenção em contexto pós transplante. A leucemia mieloide aguda com rearranjo FGFR1 é uma doença rara e agressiva. Assertividade do diagnóstico é de suma importância tendo em vista que, até a presente data, a única possibilidade de cura destes pacientes é o transplante alogênico de medula óssea.
Referência:
Strati P, Tang G, Duose DY, Mallampati S, Luthra R, Patel KP, et al. Myeloid/lymphoid neoplasms with FGFR1 rearrangement. Leuk Lymphoma. 2017;59(4):1017-20. doi:10.1080/10428194.2017.1397663.




