HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA leucemia linfoblástica aguda de células T (LLA-T) constitui uma neoplasia hematológica incomum e biologicamente agressiva, particularmente na população pediátrica, correspondendo a aproximadamente 15% dos casos de LLA em crianças. De acordo com os critérios estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o diagnóstico é confirmado na presença de ≥20% de blastos na medula óssea, associado à definição da linhagem T por meio de imunofenotipagem. Apesar de não serem mandatórios para o diagnóstico, os testes moleculares têm desempenhado um papel fundamental na caracterização biológica da LLA-T, fornecendo informações relevantes para a estratificação de risco, predição de resposta terapêutica e identificação de alvos terapêuticos. Neste contexto, o presente estudo tem como foco a caracterização molecular de amostras de LLA-T, com ênfase na investigação das alterações genéticas envolvendo os genes TLX1, TLX3, fusão gênica NUP214-ABL1, e NOTCH1, os quais apresentam recorrência significativa e reconhecida relevância prognóstica. A expressão aberrante de TLX1 e TLX3 está frequentemente associada a subgrupos moleculares com desfechos clínicos mais favoráveis. Por outro lado, rearranjos envolvendo NUP214-ABL1 e mutações ativadoras em NOTCH1 podem impactar diretamente a sensibilidade terapêutica e a classificação prognóstica dos pacientes.
ObjetivosDessa forma, este trabalho tem como objetivo descrever a metodologia aplicada na triagem molecular desses marcadores em coorte de pacientes do Hospital da Criança de Brasília José de Alencar(HCB) com LLA-T, contribuindo para o aprimoramento da compreensão da heterogeneidade genômica da doença e destacando a importância da incorporação de dados moleculares na prática diagnóstica e na definição de estratégias terapêuticas personalizadas.
Material e métodosForam selecionadas 34 amostras de pacientes pediátricos com LLA-T armazenadas no Biobanco do HCB, sendo 79% do sexo masculino e 21% feminino, com idades entre 3 e 15 anos. A extração de RNA total foi realizada pelo método Trizol/clorofórmio (Sigma-Aldrich), seguida por quantificação em NanoDrop™ (Thermo Scientific). A síntese de cDNA foi realizada com o kit GoScript™ Reverse Transcription System (Promega), conforme o protocolo do fabricante. Como controle positivo, utilizou-se um plasmídeo contendo sequências dos genes TLX1, TLX3 e da fusão gênica NUP214-ABL1 e posteriormente RT-PCR.
ResultadosEntre as amostras analisadas, 29% foram positivas para TLX1 e 45% para TLX3. Em relação à fusão gênica NUP214-ABL1, duas amostras apresentaram positividade para a fusão envolvendo o éxon 34 de NUP214 com ABL1.
Discussão e conclusãoOs dados obtidos reforçam achados da literatura que associam TLX1 e TLX3 à ativação de vias oncogênicas específicas e, em alguns casos, a piores prognósticos, especialmente quando combinadas com outras alterações genéticas. A identificação da fusão NUP214-ABL1 envolvendo o éxon 34 destaca a importância de rastrear rearranjos menos frequentes, porém clinicamente relevantes, pois podem indicar resistência a esquemas terapêuticos convencionais e resposta a inibidores de tirosina- quinase. As amostras estão em processo de sequenciamento para detecção de mutações em NOTCH1, o que poderá ampliar a compreensão do perfil molecular da LLA-T nesta população. A adoção desses métodos pode contribuir significativamente para o conhecimento do perfil genético das leucemias pediátricas no Brasil e para a introdução de terapias mais precisas, com base em alvos moleculares específicos.




