HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA leucemia aguda de fenótipo misto (LAFM) é caracterizada pela presença de blastos leucêmicos com marcadores de leucemia mieloide aguda (LMA) e leucemia linfoblástica aguda B e/ou T (LLA).
MétodosRelato de caso de paciente do serviço de hematologia de um hospital universitário, com base em dados clínicos, laboratoriais e histopatológicos.
Descrição do casoPaciente feminina, 45 anos, que acompanhava no ambulatório de hematologia desde 2019 por trombofilia (deficiência de proteína C funcional), com histórico de trombose de veia porta e território mesentérico superior em set/17, apresentando hepatopatia, esplenomegalia limítrofe e plaquetopenia. Evoluiu em dez/23 com dor torácica, dispneia, parestesia e dor em membros. Exames demonstraram anemia, leucocitose >100.000/mm3, às custas de 36% de blastos. Realizada avaliação de medula óssea, com imunofenotipagem sugestiva de LMA, com coexpressão aberrante de CD19, além de cariótipo 46,XX,t(9;22) (q34;q11,2) e inicialmente BCR:ABL1 P210 e P190 inconclusivos (após ambos detectáveis). Iniciado esquema de tratamento de indução com 7+3 e acréscimo de imatinibe após resultado de cariótipo. Cogitada hipótese de crise blástica mieloide, sendo mantido imatinibe por RC e DRM negativa após indução, aguardando TMO alogênico. Em abr/24 inicia com dor óssea e hemograma demonstrando leucocitose, com 58% blastos. Nova investigação demonstra presença de 86,4% de blastos de linhagem linfóide B em MO, sendo realizado troca de tratamento para dasatinibe + corticoterapia. Na avaliação de resposta após indução (jul/24), imunofenotipagem com presença de 19,4% de blastos da linhagem mieloide e 1,5% de blastos da linhagem linfoide B. Iniciado protocolo Hyper-CVAD associado a dasatinibe, que se mostrou ineficaz após 2 ciclos (persistência de blastos linfóides > 90% em sangue periférico). Optado por realizar esquema de resgate com FLAG-IDA e dasatinibe (com posterior troca para ponatinibe) em out/24. Em avaliação de resposta após resgate, paciente com RC e DRM positiva, sendo reencaminhada para TMO-alo e mantido ponatinibe + corticoterapia. Paciente submetida a TMO-alo em fev/25, no momento em remissão completa, com PCR BCR:ABL1 P190/P210 indetectáveis.
DiscussãoAs LAFM são raras, < 5% das leucemias agudas, com cromossomo Filadélfia (Ph+) presente em ∼25% dos casos. Leve predominância em adultos e sexo masculino. Podem apresentar múltiplos marcadores de linhagem em uma única população de blastos (leucemia bifenotípica) ou marcadores de uma linhagem em populações de blastos distintas (leucemia bilineal). As diretrizes de tratamento não estão estabelecidas, com recomendação atual de realizar indução semelhante à da LLA (ex. Hyper-CVAD) seguido de TMO-alo, assim que RC for identificada. No entanto, caso falha na indução o regime pode ser trocado para um semelhante à LMA (ex. baseados no FLAG), seguido de TMO-alo. Em revisões retrospectivas, a sobrevida em 3 anos para pacientes submetidos ao TMO-alo é de 56%. Nos casos positivos para o gene de fusão BCR-ABL, a adição de inibidor de tirosina quinase (TKI) é recomendado, com redução significativa no risco de morte, e novos estudos demonstrando mesmas taxas de OS que em pacientes LLA-B Ph+.
ConclusãoLeucemia aguda de fenótipo misto trata-se de doença rara, que apresentou avanços no diagnóstico e tratamento nos últimos anos. Apesar disso, ainda é considerada a de pior prognóstico dentre as leucemias em adultos. O caso ilustra um bom desfecho, apesar da gravidade da doença.




